sábado, 30 de outubro de 2010

Beltane


Beltane
 

Hemisfério Norte: 1o de Maio
Hemisfério Sul: 31 de Outubro
Também conhecido como Dia 1o de Maio, Dia da Cruz, Rudemas e Walpurgisnacht, o Sabbat Beltane é derivado do antigo Festival Druida do Fogo, que celebrava a união da Deusa ao seu consorte, o Deus, sendo também um festival de fertilidade. Na Religião Antiga, a palavra "fertilidade" significa o desejo de produzir mais nas fazendas e nos campos e não a atividade erótica por si só.

Beltane celebra também o retorno do sol (ou Deus Sol), e é um dos poucos festivais pagãos que sobreviveu da época pré-cristã até hoje e, em sua maior parte, na forma original. é baseado na Floralia, um antigo festival romano dedicado a Flora, a deusa sagrada das flores. Em tempos mais antigos, esse festival era dedicado a Plutão, o senhor romano do Submundo, correspondente do deus Hades da mitologia grega. O primeiro dia de maio era também aquele em que os antigos romanos queimavam olíbano e selo-de-salomão e penduravam guirlandas de flores diante de seus altares em honra aos espíritos guardiães que olhavam e protegiam suas famílias e suas casas.

No dia de Beltane o sol está astrologicamente no signo de Tauros, o Touro, que marca a "morte" do Inverno, o "nascimento" da Primavera e o começo da estação do plantio. Beltane inicia-se, acendendo-se, segundo a tradição, as fogueiras de Beltane ao nascer da lua na véspera de 1o de Maio para iluminar o caminho para o Verão. Realiza-se o ritual do Sabbat em honra à Deusa e ao Deus, seguido da celebração da Natureza, que consiste de banquetes, antigos jogos pagãos, leitura de poesias e canto de canções sagradas. São realizadas várias oferendas aos espíritos elementais, e os membros do Coven dançam de maneira muito alegre, no sentido destrógiro, em torno do Mastro (símbolo fálico da fertilidade). Eles também entrelaçam várias fitas coloridas e brilhantes para simbolizar a união do masculino com o feminino e para celebrar o grande poder fertilizador do Deus. A alegria e o divertimento costumam estender-se até as primeiras horas da manhã, e, ao amanhecer do dia 1o, o orvalho da manhã é coletado das flores e da grama para ser usado em poções místicas de boa sorte.

Os alimentos pagãos tradicionais do Sabbat Beltane são frutas vermelhas (como cerejas e morangos), saladas de ervas, ponche de vinho rosado ou tinto e bolos redondos de aveia ou cevada, conhecidos como bolos de Beltane. Na época dos antigos druidas, os bolos de Beltane eram divididos em porções iguais, retirados em lotes e consumidos como parte do rito do Sabbat. Antes da cerimômia, uma porção do bolo era escurecida com carvão, e o infeliz que a retirava era chamado de "bruxo de Beltane", e tornava-se a vítima sacrificial a ser atirada na fogueira ardente.

Nas Terras Altas da Escócia, os bolos de Beltane são usados para adivinhação, sendo atirados pedaços deles na fogueira como oferenda aos espíritos e deidades protetores.

Incensos : olíbano, lilás e rosa.
Cores das velas : verde escuro.
Pedras preciosas sagradas : esmeralda, cornalina laranja, safira, quartzo rosa.
Ervas ritualísticas tradicionais : amêndoa, angélica, freixo, campainha, cinco-folhas, margarida, olíbano, espinheiro, hera, lilás, malmequer, barba-de-bode, prímula, rosas, raiz satyrion, aspérula e primaveras amarelas.


Ritual do Sabbat Beltane



O Sabbat Beltane dos Bruxos começa oficialmente ao nascer da lua da Véspera de 1o de Maio (ou 31 de Outubro, no hemisfério sul), sendo tradicionalmente realizado no alto de uma montanha onde são acesas as imensas fogueiras de Beltane para iluminar o caminho para o verão e aumentar a fertilidade nos animais, nas sementes e nas casas. (Antigamente as grandes fogueiras da Irlanda, que simbolizavam o Deus Sol doador de vida, eram acesas com a centelha de uma pederneira ou pela fricção de duas varetas.)

Se você planeja festejar Beltane em ambiente fechado, deverá acender o fogo em um local apropriado. Certifique-se de colocar um galho ou ramo de sorveira sobre o fogo para reverenciar os espíritos guardiães de sua casa e sua família, trazendo boa sorte para a casa e mantendo afastados os fantasmas, duendes e fadas malévolos. Se você não tiver lugar apropriado, poderá acender 13 velas verdes-escuras para simbolizar a fogueira de Beltane.

Vista-se com cores brilhantes da Primavera (a não ser que prefira trabalhar sem roupa) e use muitas flores coloridas e de odor forte nos cabelos. Antes de vestir-se para a cerimônia, medite e banhe-se à luz de velas com ervas para limpar seu corpo e sua alma de quaisquer impurezas ou energias negativas.

Comece traçando um círculo de 3m de diâmetro e monte um altar no centro, voltado para o leste. No topo do altar, coloque duas estatuetas para representar a Deusa da Fertilidade e Seu consorte, o Deus Cornífero. Ao lado de cada uma delas, um incensório contendo olíbano e selo-de-salomão. No lado direito do altar, coloque um punhal consagrado e um cálice cheio de vinho. Acenda 13 velas verdes-escuras em torno do círculo.

Prepare uma coroa de flores do campo que florescem na Primavera, tais como margaridas, prímulas, primaveras ou malmequeres, e coloque-a no altar diante dos símbolos da Deusa e do Deus. Pode ser colocado um pequeno mastro decorado (com cerca de 1m de altura) à direita do altar, enfeitado com flores e fitas de cores brilhantes.

Ajoelhe-se diante do altar. Acenda as velas e o incenso. Feche os olhos, concentre-se na imagem divina da Deusa e do Deus, e diga:
EM HONRA À DEUSA E AO DEUS CORNíFERO, E SOB A SUA PROTEçãO, INICIA-SE AGORA ESTE RITUAL DO SABBAT.

Abra os olhos. Pegue o punhal que está no altar, cumprimente com ele o leste, e diga:
OH, DEUSA DE TODAS AS COISAS SELVAGENS E LIVRES, A TI EU CONSAGRO ESTE CíRCULO.
 Segure o punhal em saudação na direção sul e diga:
ABENÇOADA SEJA A VIRGEM DA PRIMAVERA, PARA ELA EU CANTO ESTA PRECE DE AMOR. ELA TORNA VERDE AS FLORESTAS E OS PRADOS, OH, DEUSA DA NATUREZA, ELA REINA SUPREMA.

Segure o seu punhal em saudação ao oeste, e diga:
OLíBANO E SELO-DE-SALOMÃO, GRAÇAS A ELA QUE FAZ GIRAR A RODA!

Segure o punhal e saúde o norte, dizendo:
ABENÇOADO SEJA O SENHOR DA PRIMAVERA, PARA ELE EU CANTO A PRECE DO AMOR. DEUS DIVINO DAS TREVAS, DEUS DIVINO DA LUZ, ESTA NOITE EU CELEBRO OS SEUS PODERES FERTILIZANTES.

Coloque o punhal de volta no altar. Pegue a coroa de flores do campo e coloque-a no alto de sua cabeça. Quando esse ritual é realizado por um Coven, o costume é que o Alto Sacerdote a coloque sobre a cabeça da Alta Sacerdotiza. Ajoelhe-se diante do altar, olhando para as imagens das deidades pagãs da fertilidade. Abra os braços e diga:
ESPíRITOS DA ÁGUA E DO AR, EU PEÇO QUE OUÇAM A MINHA PRECE: QUE O CÉU E O MAR PERMANEÇAM LIMPOS, QUE A TERRA SEJA FÉRTIL E VERDE. ESPÍRITOS DO FOGO, ESPÍRITOS DA MÃE TERRA, QUE O MUNDO SEJA ABENÇOADO COM PAZ, AMOR E ALEGRIA.

Pegue o cálice de vinho e levante-o com o braço esticado, e, enquanto derrama algumas gotas no chão, como libação à Deusa e ao Deus, feche os olhos e diga:
QUEIMEM OS FOGOS SAGRADOS DE BELTANE, ILUMINEM O CAMINHO PARA O RETORNO DO SOL. AS TREVAS DO INVERNO DEVEM AGORA TERMINAR, A GRANDE RODA DA VIDA GIROU NOVAMENTE. QUE ASSIM SEJA.

Beba o resto do vinho do cálice e, então, coloque-o de volta no altar. Apague as velas, mas deixe que o incenso termine de queimar. O ritual está agora completo, devendo ser seguido de um banquete, de cantos e danças na direção do movimento do sol em torno da fogueira de Beltane ou do mastro decorado para simbolizar a união divina da Deusa com o Deus.


Fonte: “Wicca - A Feitiçaria Moderna” de Gerina Dunwich
Imagens: Google

Xintoísmo



O xintoísmo é a religião nativa no Japão, não tem fundador histórico e não tinha nome, doutrinas, dogmas ou fontes escritas anteriores ao século VI d.C., época em que o budismo começa a ser difundido no Japão.
Consistia num conjunto de costumes, tradições, ritos e mitos que explicavam a origem do mundo, do Japão e da família imperial. A palavra japonesa shinto (caminho dos deuses) começa a ser usada nessa época para designar o conjunto de crenças consideradas animistas e panteístas e distingui-las do butsudo (caminho de Buda), a nova religião, vinda da Coréia. Entre os séculos VIII e X são registradas as tradições culturais do xintoísmo. As crenças, orações e rituais xintoístas, que eram transmitidas oralmente, foram compiladas em três volumes, denominados de: Kojiki (anais das coisas antigas), concluído em 712 d.C., Nihongi (crônicas do Japão), concluído em 720 d.C., e o Yengishiki (hinos e preces), concluído no século X.
No xintoísmo, Kami (Ka significa fogo, espiritualização, e mi significa água, materialização) é a palavra japonesa para Deus. Kami é a centelha original da vida. Kototama é o reino dos deuses, o mundo espiritual. Na realidade é a força vital criativa do Universo composta dos sons-mãe (dimensões originais que precedem tanto a vibração quanto os sons audíveis – as cinco vogais, A, E, I, O e U) e dos sons-pai (que geram a polaridade e a vibração – as oito consoantes, Hi, Ni, Si, Ri, Ti, Yi, Ky e Mi), como se fossem as duas mãos de Deus (o Eterno feminino e Eterno masculino hindu). Sem essas mãos nenhuma partícula de energia poderia ser movida. Quando esses sons se combinam, criam o Ki universal (o Verbo Criador hindu e cristão, o AUM, o Amém), a verdadeira vibração que se manifesta continuamente no mundo material, harmonizando toda a manifestação visível e invisível . Dessa forma, ensina que o divino está presente em todas as coisas, visíveis e invisíveis: nas formas de vida, nas formas inanimadas, nos ancestrais e nas forças cósmicas, os dois últimos transformados em divindades. Essas divindades também recebem a designação de kamis ou “espíritos divinos”, poder sagrado cuja natureza não pode ser explicada em palavras e que se acha difundido na natureza.
A partir do século III, quando os mongóis atacaram o Japão e foram refutados duas vezes por tempestades, a crença nas divindades xintoístas, como os kamikazes (deuses do vento), foi enaltecida. Nesse tempo cada clã cultuava seu próprio  kami protetor até que, quando a família imperial unificou o Japão no século VII, a deusa Amaterasu foi elevada a deusa nacional e o imperador a seu descendente direto. À medida que sua importância aumentava, os Buddhas e Bodhisattvas do butsudo foram considerados como manifestações temporárias das divindades xintoístas.
No século XVIII, o sábio Norinaga Motoori enfatizou a superioridade da deusa do Sol, afirmando que os outros eram apenas as causas dos fenômenos naturais. Atsutane Hirata, seu seguidor, atribuiu a Amenominakanushi (Senhor do augusto centro do céu) identidade com o Deus Único. Esse Senhor do céu, no mundo material se manifestou como (Alto gerador do deus prodigioso) e Takamimusubi Kamimusubi (Divino gerador do deus prodigioso), como os dois princípios: o masculino e o feminino.
Essa teologia, base da divinização do imperador, levou à restauração do governo imperial em 1.868, derrubando o xogunato, existente desde o século XII. A partir de então o imperador passou a ser considerado o deus revelado aos homens, o deus manifestado. Foi a religião oficial, nacionalista que exaltava a raça japonesa e divinizava o imperador, até o final da II Guerra Mundial, quando os Estados Unidos obrigaram o imperador Hiroíto a desfazer o mito de sua divindade e a nova Constituição do país passou a defender a liberdade de religião.
Segundo o Kojiki, o advento dos deuses iniciou-se com cinco divindades: Amenominakanushi (Senhor do augusto centro do céu), Takamimusubi (Alto gerador do deus prodigioso), Kamimusubi (Divino gerador do deus prodigioso), Umashiashikabihikoji (O mais velho soberano do cálamo) e Amenotokotachi (O que está eternamente deitado no céu).
A seqüência prossegue com as “sete gerações divinas”, dois deuses e mais cinco pares: Kuminotokotachi (Eternamente deitado sobre a Terra) e Toyokumonu (Senhor da integração exuberante), Uhijini (Senhor da lama da Terra) e Suhijini (Senhora da lama da Terra), Tsunuguhi (Embrião que integra) e Ikuguhi (Aquela que integra a vida), Ohotonoji (O mais velho da grande morada) e Ohotonobe (Senhora mais velha da grande morada), Omodaru (Aspecto perfeito) e Ayakashikone (Majestosa) e Izanagi (Varão que atrai) e Izanami (Mulher que atrai). 
O último casal da série teogônica, Izanagi e Izanami, desempenha na cosmogonia xintoísta o papel da criação e, como tal, é a partir dele que se estrutura o corpo de mitos que mostram, por exemplo, o aparecimento das ilhas japonesas e das divindades secundárias associadas a cada uma destas. A catábase (descida aos infernos) de Izanagi, realizada após a morte de sua mulher em conseqüência do parto do fogo, faz parte dessa categoria de mitos. Segundo a narrativa tradicional, Izanagi contemplou o corpo putrefato de Izanami e se purificou num rio ao retornar ao mundo dos vivos. De seus trajes abandonados e das impurezas que lhe saíram do corpo nasceram as divindades maléficas. Izanagi tomou a lança de jóias do céu e arremessou-a no oceano. Quando levantou a lança, a água salgada que pingou dela se endureceu e nasceu uma ilha, os dois foram viver nela e aí criaram a grande terra das Oito Ilhas. Izanagi lavou o seu olho esquerdo dando à luz a deusa do Sol Amaterasu. Fizeram surgir também o deus da Lua Tsukiyomi e o deus tempestade Susanowo, irmãos de Amaterasu (a Trimurti xintoísta).
Inicia-se então, há cerca de 15 mil anos, uma época pura (Kannagara) e intocada pela racionalidade, onde a humanidade agia em concordância com a Lei Universal, vivendo junto com os kamis, sob o governo de Amaterasu. Um tempo em que o princípio Kototama foi aplicado à sociedade, levando-a a uma prosperidade sem igual, à época das grandes civilizações do Egito e da Suméria.
A deusa do Sol constitui família e o seu neto Jimmu Tenno tornou-se o primeiro imperador do Japão, por isso, ele não pode ter relação nenhuma com o comum dos mortais. O imperador é, então, venerado como descendente de Amaterasu, a grande deusa do Sol e do mundo vivo, a maior divindade da religião. Chegou assim a época em que Tsukiyomi (o deus da Lua) deveria começar seu governo, em que a filosofia e o materialismo deveriam reinar, tarefa recusada por Susanowo.
O grande plano divino era o desenvolvimento pleno de uma ciência e sociedade materialistas, cuja meta era a comprovação dos princípios espirituais da era anterior. Assim essa mudança conseguiria criar uma idade de ouro no futuro. Mas para o desenvolvimento materialista era imperativo que as verdades espirituais fossem ocultadas. Então o princípio do Kototama foi feito oculto, à época de Moisés, e surgiram as religiões organizadas, como uma forma de não se perder totalmente o vínculo com o divino. Amaterasu teve a missão de preservar os ensinamentos com vistas à nova era de ouro. A partir de então, o xintoísmo assumiu as formas e os rituais de uma religião.
Enquanto religião, a divinização das energias cósmicas foi acompanhada da divinização dos espíritos dos antepassados (considerados deuses tutelares da família), dos sábios ancestrais, dos imperadores, de alguns animais e de forças elementares da natureza. Para o xintoísmo a alma dos que morrem permanece poluída, conservando sua personalidade de quando em vida, necessitando assim de rituais de purificação, para que assuma um aspecto benevolente e pacífico. Dessa forma ela atingirá o grau de guardião, ou deidade (kami) protetora da família.
Os deuses, “flutuando no ar”, descem a santuários (xintais) quando invocados. Para isso conservam um santuário doméstico, o Kamidana, onde objetos simbólicos como um amuleto, um espelho, uma vela e um vaso com galhos de sakaki são colocados. É costume oferecer uma tigela d’água e arroz cozido todas as manhãs antes do desjejum. Com o tempo, os xintais passaram a ser objetos de adoração, visto que eram morada dos deuses, os quais já eram então inumeráveis: yaoyorozu-no-kami (oito milhões de deuses). Eram considerados xintais as árvores, rochas, espelhos e espadas e até mesmo um monte como o Fuji poderia servir de xintai.
Como religião, os deuses cultuados, as doutrinas e os preceitos têm um valor relativo. Na realidade, a simbologia se tornou o ponto mais importante do xintoísmo, mas seu significado ficou oculto à maioria. A essência do Kototama ficou representada pelos três tesouros (o espelho, a espada e o rosário) e pelas divindades a eles associadas.
Com a perda do significado da simbologia, a religião se limitou à prática de atos que mantivessem a harmonia e a subsistência da comunidade. Sem cânones ou dogmas acerca do certo e do errado, sua prática se baseava em costumes, que demonstravam como conseguir, com discernimento e moralidade, aquela harmonia. Necessário se faz estar em harmonia com os deuses e com a natureza. Para a harmonia com os deuses, é fundamental a limpeza de todas as impurezas morais e pecados através de rituais de purificação: o oharai (purificação com um ramo de sakaki) e o misogi (purificação com água). Para a harmonia com a natureza não se deve ir contra nenhuma Lei natural (ecologia).
O culto xintoísta é realizado no templo dos kamis locais, feito de cipreste japonês e, segundo uma tradição, demolido e reconstruído a cada vinte anos. Seu símbolo é o portal de madeira, chamada de Tori. Todas as entradas dos santuários xintoístas possuem este Tori, que consiste de duas colunas ligadas por duas vigas. As colunas representam os alicerces que sustentam o céu, enquanto as vigas simbolizam a Terra. O Tori é considerado o portão de entrada entre o espírito e a matéria. Da mesma forma que o Tori, o terreno, o rio que corre, a ponte sobre o rio, a floresta, o teto com seus 10 troncos e os dois leões têm todos um significado, uma simbologia.
Seus templos são sem estátuas e celebra-se uma liturgia de purificação, oferendas (dinheiro, flores, alimentos ou bebidas) aos kamis, orações de louvor e gratidão e uma refeição sagrada com eles (naorai). Nas festas religiosas, uma estátua do kami, ou um emblema que o simboliza, é transportado pelas ruas em um santuário portátil (mikoshi), em procissão.
As relações entre o culto aos antepassados e o culto dos kamis manifestam-se também no Kashikodokoro, santuário do palácio imperial de Tóquio, onde o imperador e sua corte rendem homenagens aos kamis antepassados durante as grandes festas religiosas (matsuri). O Kashikodokoro constitui, no Japão moderno, o centro onde se preservam as remotas tradições do xintoísmo. O Grande Santuário de Ise, em Mie, é hoje o principal santuário do Japão.
O culto ao materialismo teve sucesso além do esperado, de forma que uma tendência à negação da espiritualidade se tornou de tal forma violenta, que surgiu o perigo de uma destruição total da humanidade. Assim houve a necessidade do aparecimento de grandes homens, para relembrar à humanidade a espiritualidade perdida; homens como Lao-Tsé, Confúcio, Sidarta Gautama e Jesus de Nazaré (enviados de Tsukiyomi, equivalente ao Vishnu hindu). A mitologia e a cosmologia xintoísta afirmam que a época atual de sofrimento é uma época de transição à nova idade de ouro. Passada a era da espiritualidade, da filosofia e do materialismo, veremos o surgimento de uma nova era, que requer um tempo de purificação (misogi). Essa missão de purificação seria responsabilidade de Susanowo, o deus terrível e zeloso da tempestade (equivalente xintoísta do Shiva hindu).
  

Escrito por Cláudio Azevedo   
     Este texto pertence a: http://www.orion.med.br

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Zoroastro ou Zaratrusta


 

Nascimento de Zaratustra

Há muito tempo, nas estepes a perder de vista da Asia Central perto do Mar de Aral, havia uma pequena vila de casas de adobe, onde vivia a família Spitama. Um dia, no sexto dia da primavera, um menino nasceu naquela família. A sua mãe e seu pai decidiram dar-lhe o nome de Zaratustra. Ao nascer, Zaratustra não chorou, pelo contrário, riu sonoramente. As parteiras, vendo aquilo, admiraram-se, pois nunca tinham visto um bebê rir ao nascer.
Na vila havia um sacerdote que percebeu que aquele menino viria a ser um revolucionário do pensamento humano e o que enfraqueceria o poder dos "donos" das religiões. Ele então decidiu tomar providências e procurou Pourushaspa, o pai de Zaratustra, com a seguinte conversa: "Pourushaspa Spitama, vim avisar-lhe. Seu filho é um mau sinal para a nossa vila porque riu ao nascer, ele tem um demônio. Mate-o ou os deuses destruirão seus cavalos e plantações. Onde já se viu rir ao nascer nesse mundo triste e escuro! Os deuses estão furiosos!".
Pourushaspa não queria ferir seu filho, mas o sacerdote insistiu e impôs uma prova.
Na manhã seguinte Pourushaspa fez uma grande fogueira, e à frente de todos colocou Zaratustra no meio do fogo, mas ele não sofreu dano algum. O sacerdote ficou confuso.
Zaratustra foi levado então para um vale estreito e colocado no caminho de uma boiada de mil cabeças de gado, para ser pisoteado. O primeiro boi da boiada percebeu o menino e ficou parado sobre ele, protegendo-o, enquanto o resto passava ao lado e o bebê não sofreu um só arranhão. O sacerdote logo arquitetou outro plano. O menino Zaratustra foi colocado na toca de uma loba que, ao invés de devorá-lo, cuidou dele até que Dugdav, sua mãe, viesse buscá-lo. Diante de tantos prodígios o sacerdote ficou envergonhado e mudou-se da vila.
Ao crescer, Zaratustra peramburalava pelas estepes indagando-se: "Quem fez o sol e as estrelas do céu? Quem criou as águas e as plantas? E quem faz a lua crescer e minguar? Quem implantou nas pessoas a sua natural bondade e justiça?".
Um dia Zaratustra estava meditando às margens de um rio quando um ser estranho lhe apareceu. Ele era indescritível, tal a sua beleza e brilho. Zaratustra perguntou-lhe quem era ele, ao que teve como resposta: "Sou Vohu Mano, a Boa Mente. Vim lhe buscar". E tomou-lhe a mão, e o levou para um lugar muito bonito, onde sete outros seres os esperavam.
A Boa Mente disse-lhe então: "Zaratustra, se você quiser pode encontrar em você mesmo todas as respostas que tanto busca, e também questões mais interessantes ainda. Ahura Mazda, Deus que tudo cria e sustenta, assim escolheu partilhar a sua divindade com os seres que cria. Agora, sabendo disso, você pode anunciar essa mensagem libertadora a todas as pessoas.”
Zaratustra contestou: "Por que eu? Não sou poderoso e nem tenho recursos!". Os outros seres responderam em coro: "Você tem tudo o que precisa, o que todos igualmente têm: Bons pensamentos, boas palavras e boas ações".
Zaratustra voltou para casa e contou a todos o que lhe acontecera. A sua família aceitou o que ele havia descoberto, mas os sacerdotes o rejeitaram. Eles argumentaram: "Se é assim nada há de especial em nosso serviço, nada valem nossos sacrifícios e perderemos o poder que nos dão os deuses ciumentos e caprichos que servimos. Estamos sem trabalho e passaremos fome!". Decidiram, então, dar cabo da vida de Zaratustra.
Com sua boa mente ele entendeu que tinha que sair dali por uns tempos. Chamou seus vinte e dois companheiros e companheiras de primeira hora e fugiram com tudo o que tinham. Eles viajaram durante várias semanas até chegarem a um lugar cujo governante chamava-se Vishtaspa. Zaratustra procurou Vishtaspa e partilhou com ela a sua descoberta.
Vishtaspa respondeu ao seu apelo com uma recusa: "Por que haveria de crer nesse estranho? Meus deuses são, com certeza, mais poderosos que esse Ahura Mazda!".
Após dois anos tentando convencer Vistaspa, e enfrentando a mais cruel oposição, passando, inclusive, um tempo preso, um acidente com o cavalo de Vishtaspa ajudou a resolver a favor de Zaratustra esse impasse. À beira de morte, o cavalo tornou-se o pivot de todas as atenções. Vistaspa chamou sacerdotes, feiticeiros, médicos e sábios para salvar o seu cavalo. Juntos eles tentaram de tudo, inclusive oferecendo aos deuses dezenas de sacrifícios de outros cavalos. Além disso, brigaram entre si, fizeram intrigas, mas nada aconteceu, o cavalo de Vishtaspa só piorava. Zaratustra, que fora criado num ambiente rural, logo percebeu que ele fora envenenado. Procurando Vishtaspa ele sugeriu um remédio muito usado nesses casos em sua terra. Sem alternativas, embora descrente, Vishtaspa aceitou a idéia de Zaratustra e em dois dias seu cavalo estava de pé, sem sinal do doença.
Todos ficaram pasmos e acharam que Zaratustra tinha operado um milagre. Ele respondeu que havia apenas usado a sua boa mente e os conhecimentos que tinha adquirido em casa. Vishtaspa e sua família ficaram encantados com a honestidade e simplicidade de Zaratustra, e dispuseram-se a ouvi-lo de novo, dessa vez com coração e mentes desarmados. Em pouco tempo não só Vishtaspa e sua família haviam sidos iniciados, como também grande parte de seu povo.
Embora Zaratustra pudesse ter usado a ocasião da cura do cavalo de Vishtaspa para arrogar-se poderes sobrenaturais ele preferiu ser sincero, e foi isso o que de fato mostrou a Vishtaspa a sublime beleza e profundidade da mensagem.

 

Vida de Zaratustra

Zaratustra, nascido de uma virgem, deu uma grande gargalhada ao nascer. A natureza inteira se regozijou com a sua vinda ao mundo. Desde tenra idade, ele possuía uma sabedoria extraordinária, manifestada em sua conversação e em sua maneira de ser. Aos sete anos já teria começado a cultivar o silêncio. A sua vida foi salva muitas vezes dos inimigos que queriam martirizá-lo a fim de que não chegasse à maturidade e cumprisse a sua missão divina. Aos quinze anos de idade Zaratustra realizou valiosas obras religiosas e chegou a ser conhecido por sua grande bondade para com os pobres, anciãos, enfermos e animais.
Dos 20 aos 30 anos, segundo narrativas que chegaram a nós, Zaratustra viveu quase sempre isolado, habitando no alto de uma montanha, em cavernas sagradas. Não ingeria nenhum alimento de origem animal. Em outros relatos, teria ido ao deserto, onde fora tentado pelo diabo, mas não sucumbiu à tentação, de modo semelhante a Jesus nos quarenta dias de provação no deserto. Após sete anos de solidão completa, regressou ao seu povo, e com a idade de trinta anos recebeu a revelação divina por meio de sete visões ou idéias.
Assim começou Zaratustra a sua missão aos trinta anos (a mesma idade em que o Zaratustra de Nietzche iniciou a dele). Segundo os Masdeístas ele encontrou muita dificuldade para converter as pessoas à sua nova religião. Em dez anos de pregação teve somente um crente: o seu primo. Durante este período, o chamado de Zaratustra foi como uma voz no deserto. Ninguém o escutava. Ninguém o entendia.
Foi perseguido e hostilizado pelos sacerdotes e por toda a sorte de inimigos ao longo de dez anos. Os príncipes recusaram dar-lhe apoio e proteção e encarceraram-no porque a sua nova mensagem ameaçava a tradição e causava confusão nas mentes de seus súbditos. Com 40 anos, realizou milagres e preocupava-se com a instrução do povo. Converteu o rei Vishtaspa, que se tornou um fervoroso seguidor da religião por ele pregada, iniciando a verdadeira difusão dos ensinamentos de Zaratustra e de uma grande reforma religiosa.
Logo em seguida, a corte real seguiu os passos do rei e, mais tarde, o Masdeísmo chegou a ser a religião oficial da Pérsia. No império dos reis Sassânidas, principalmente no de Ardashir (227 a.C.), o chefe religioso era a segunda pessoa no Estado depois do imperador soberano, e este, inteiramente de acordo com o antigo costume, era admitido como divino ou semidivino, vivendo em particular intimidade com Ormuzd.
Aos 77 anos de idade ele teria morrido assassinado enquanto rezava no templo, diante do fogo sagrado. Segundo alguns relatos, o seu túmulo estaria em Persépolis.


 

Cosmogonia

Na doutrina zaratustriana, antes de o mundo existir, reinavam dois espíritos ou princípios antagônicos: os espíritos do Bem (Ahura Mazda, Spenta Mainyu, ou Ormuz) e do Mal (Angra Mainyu ou Arimã). Divindades menores, gênios e espíritos ajudavam Ormuz a governar o mundo e a combater Arimã e a legião do mal. Entre as divindades auxiliares, como consta no Avesta a mais importante era Mithra, um deus benéfico que exercia funções de juiz das almas. No final do século III d.C, a religião de Mithra fundiu-se com cultos solares de procedência oriental, configurando-se no culto do Sol.
Arimã é representado como uma serpente. Criador de tudo que há de ruim (crime, mentira, dor, secas, trevas, doenças, pecados, entre outros), ele é o espírito hostil, destruidor, que vive no deserto entre sombras eternas. Ormuzd, no entanto, é o Criador original, organizador do mundo de modo perfeito.
Ahura Mazda é representado também como o divino Lavrador, o que mostra o enraizamento do culto na civilização agrícola, na qual o cultivo da terra era um dever sagrado. No plano cosmológico, contudo, ele é o criador do universo e da raça humana, com poderes para sustentar e prover todos os seres, na luz e na glória supremas.
Bem e Mal não são apenas valores morais reguladores da vida cotidiana dos humanos, mas são transfigurados em princípios cósmicos, em perpétua discórdia. A luta entre Bem e Mal origina todas as alternativas da vida do universo e da humanidade. A vitória definitiva de Ormuzde sobre Arimã só poderia ocorrer se Zaratustra conseguisse formar uma legião de seguidores e servidores, forte o bastante para vencer o Espírito Hostil, e expurgar o Mal do universo. Nesse sentido, Bem e Mal são princípios criadores e estruturadores do universo, que podem ser observados na natureza e encontram-se presentes na alma humana. A vida humana é uma luta incessante para atingir a bondade e a pureza, para vencer Angra Mainyu e toda a sua legião de demônios cuja vontade é destruir o mundo criado por Ahura Mazda.
A doutrina de Zaratustra é escatológica. De acordo com os seus preceitos, o mundo duraria doze mil anos. No fim de nove mil anos, ocorreria a segunda vinda de Zaratustra como um sinal e uma promessa de redenção final dos bons. Isso seria seguido do nascimento miraculoso do Saoshyant, equivalente ao Messias hebreu, cuja missão seria aperfeiçoar os bons para o fim do mundo, da história humana, enfim, para a vitória do Bem sobre as forças do Mal. A cada mil anos viria um profeta/messias (Saoshyant).
Assim, nos últimos três milênios, três Saoshyant preparariam a completude do grande ano cósmico. É neste sentido que Nietzsche menciona Zaratustra como aquele que compreendeu a História em toda a sua completude. Cada série de desenvolvimento da História seria presidida por um profeta, que teria seu hazar, seu reino de mil anos. O Zaratustra histórico, no entanto, anuncia a chegada do tempo em que surgirá da raça persa o Shah Bahram, o Senhor Prometido, o Salvador do Mundo, o Grande Mensageiro da Paz.
No final dos tempos haveria o julgamento derradeiro de todas as almas e a ressurreição dos mortos. Não fica claro se o inferno tem duração eterna, se os maus se agitarão eternamente "nas trevas". Nos Gathas, cantos de Zaratustra, consta também que o mal poderia ser banido para sempre do universo, com o nascimento de um novo mundo, física e espiritualmente perfeito, aqui na Terra. Não seria possível, assim, a coexistência de um mundo físico degradado e um mundo hiperfísico perfeito.
Os gregos enfatizaram, no profeta persa, mais a astrologia e a cosmologia do que o dualismo moral. Para eles, Zoroastro é um ser mítico, um astrólogo, legendário fundador da seita dos magos. Os aspectos cosmológicos, soteriológicos (relativos à parte da Teologia que trata da salvação do homem), teológicos e morais do Masdeísmo estavam contidos nos Pahlavi (principalmente no Denkard), livros baseados no Avesta. Mas esses textos estão perdidos.


 

Moral

O dualismo cósmico e teogônico do Masdeísmo está intimamente relacionado ao dualismo moral. Zaratustra, com a sua mensagem divina, provocou uma verdadeira transformação no modo de pensar da sua civilização, contrariando o tradicional pensamento dos sábios de sua época. Sua mensagem baseava-se nos Gathas, cantos entoados com o objetivo de serem um guia para a humanidade – continham o triplo princípio de boa mente, boas palavras e boas ações. O Bem e o Mal, para Zaratustra, manifestam-se também na alma humana, e a única forma de poder organizar o mundo e a sociedade é estando o Bem acima do Mal. Este não traz contribuição alguma para a construção de uma vida boa, já que impossibilita uma relação equilibrada entre ser humano, sociedade e natureza.
Zaratustra propõe que o homem encontre o seu lugar no planeta de forma harmoniosa, buscando o equilíbrio com o meio (natural e social), respeitando e protegendo terra, água, ar, fogo e a comunidade. O cultivo de mente, palavras e ações boas é de livre escolha: o indivíduo deve decidir perante as circunstâncias que se apresentam em determinado fato. A boa deliberação, ou seja, uma boa reflexão a respeito de cada ação faz surgir uma responsabilidade social para colaborar com o projeto que Deus propôs ao mundo. Os seres humanos, portanto, possuem livre-arbítrio e são livres para pecar ou para praticar boas ações. Mas serão recompensados ou punidos na vida futura conforme a sua conduta.
Os principais mandamentos são: falar a verdade, cumprir com o prometido e não contrair dívidas. O homem deve tratar o outro da mesma forma que deseja ser tratado. Por isso, a regra de ouro do Masdeísmo é: "Age como gostarias que agissem contigo".
Entre as condutas proibidas destacavam-se a gula, o orgulho, a indolência, a cobiça, a ira, a luxúria, o adultério, o aborto, a calúnia e a dissipação. Cobrar juros a um integrante da religião era considerado o pior dos pecados. Reprovava-se duramente o acúmulo de riquezas.
As virtudes como justiça, retidão, cooperação, verdade e bondade, surgem com o princípio organizador de Deus Ascha, que só se pode manifestar com o esforço individual de cultivar a Tríplice Bondade. Esta prática do Bem leva ao bem-estar individual e, conseqüentemente, coletivo. A comunidade somente pode surgir quando o indivíduo se vê como autônomo, e desse modo pode descobrir o outro como pessoa. O ego é valorizado como fonte para o reconhecimento do próximo. Cultivado de forma sadia, o ego torna-se forte e poderoso para o homem observar a si próprio como membro da comunidade e capaz de contribuir para o bom relacionamento harmonioso com os outros seres.
Por isso, eram incentivadas as virtudes econômicas e políticas, entre elas a diligência, o respeito aos contratos, a obediência aos governantes, a procriação de uma prole numerosa e o cultivo da terra, como está expresso na frase: "Aquele que semeia o grão, semeia santidade". Havia também outras virtudes ou recomendações de Ahura Mazda: os homens devem ser fiéis, amar e auxiliar uns aos outros, amparar o pobre e ser hospitaleiros.
A doutrina original de Zaratustra opunha-se ao ascetismo. Era proibido infligir sofrimento a si, jejuar e mesmo suportar dores excessivas, visto o fato de essas práticas prejudicarem a alma e o corpo, e impedirem os seres humanos de exercerem os deveres de cultivar a terra e de procriar. Essas prescrições fomentavam a temperança e não a abstinência. Assim, as exortações e interdições destinavam-se a proporcionar aos homens uma boa conduta, além de reprimir os maus impulsos.

 

Doutrina religiosa

As revelações e profecias de Zaratustra estão contidas nos Gathas, cinco hinos que formam a mais antiga parte do livro do Masdeísmo, o Avesta. Os Gathas datam do final do segundo milênio a.C. Foram escritos numa língua do nordeste do Irã, aparentada ao sânscrito, o avestan gático. Originalmente, esses hinos eram transmitidos oralmente. Grande parte do Avesta original foi destruída, com a invasão de Alexandre Magno e com o domínio posterior do Islamismo. As escrituras sagradas do Masdeísmo, o Avesta ou Zend-Avesta, como se tornaram mais conhecidas no ocidente, significam "comentário sobre o conhecimento".
O Zoroastrismo é uma das religiões mais antigas e de mais longa duração da humanidade. Seu monoteísmo influenciou as doutrinas judaica, cristãs e Islâmicas Após o domínio Islâmico do Irã, o Masdeísmo passou a ser religião de uma minoria, que passou a ser perseguida pela nova religião hegemônica. Por isso, parte dos seguidores remanescentes migrou para o noroeste da Índia, onde foi estabelecida a comunidade Parsi. No Irã, permanece ainda a comunidade Zardushti. Atualmente, o número total de seguidores do Masdeísmo (Zoroastrismo) não chega a 120 mil, distribuídos em pequenas comunidades rurais. Por ser uma religião étnica, o Masdeísmo geralmente não permite a adesão de convertidos. Na atualidade há uma maior flexibilidade, devido à migração, à secularização e aos casamentos realizados entre etnias distintas.
Como já mencionado, a base da doutrina de Zaratustra é o dualismo Bem-Mal. O cerne da religião consiste em evitar o mal por intermédio de uma distinção rigorosa entre Bem e Mal. Além disso, é necessário cultivar a sabedoria e a virtude, por meio de sete ideais, personificados em sete espíritos, os Imortais Sagrados: o próprio Ahura Mazda, concebido como criador e espírito santo; Vohu Mano, o Espírito do Bem; Asa Vahista, que simboliza a Retidão Suprema; Khsathra Varya o Espírito do Governo Ideal; Spenta Armaiti, a Piedade Sagrada;Haurvatãt, a Perfeição; e Ameretãt, a Imortalidade. Estes deuses enfrentam constantemente as forças do Mal, os maus pensamentos, a mentira, a rebelião, a doença e a morte. O príncipe destas forças é Angra Mainyu, o Espírito Hostil, também conhecido como Arimã.
A adoração a Ahura Mazda ou Ormuz pode também ser chamada Mazdayasna (Adoração ao Sábio). O culto não requeria templos, pois Deus era representado pelo fogo, considerado sagrado e símbolo de pureza. A chama era mantida constantemente em altares, erguidos geralmente em lugares elevados das montanhas, onde se faziam oferendas. Os magos, detentores de segredos e de verdades reveladas, dirigiam os ritos e os cultos– são referidos na Bíblia, no Novo Testamento. O rei da Pérsia teria enviado a Israel sacerdotes do Zoroastrismo, que seguiram uma estrela até Belém, no intuito de encontrar o Salvador, ou Messias.
Zaratustra transmitira, aos magos e adeptos, os segredos e a verdade suprema que lhe foram revelados por Ahura Mazda por meio de um anjo chamado Vohu Manõ. Assim como o Cristianismo, o judaísmo e o islamismo, também no zoroastrismo a revelação divina é elemento essencial.
A religião Masdeísta diferencia-se das existentes até então não só pelo dualismo Bem–Mal, mas também pelo caráter escatológico. Entre os seus dogmas, estão a vinda do Messias, a ressurreição dos mortos, o julgamento final e a translação dos bons para o paraíso eterno. Inclui também a doutrina da imortalidade da alma e o seu julgamento.
Conforme os seus méritos ou pecados, elas iriam para o mundo dos justos (paraíso), para a mansão dos pesos iguais (purgatório) ou para a escuridão eterna (inferno). Não sepultavam, incineravam ou jogavam os mortos em rios, mas ficavam expostos em altas torres a céu aberto. Os corpos dos justos, salvos da destruição, secariam; já os dos injustos seriam devorados pelas aves de rapina. Desse modo, Zaratustra pode ser visto como um dos primeiros teólogos da história por ter erigido um sistema de fé religiosa desenvolvido e estruturado.
Enquanto religião ética, o Masdeísmo possuía a missão de purificar os costumes tradicionais de seu povo a fim de erradicar o politeísmo, o sacrifício de animais e a magia. Com isso, o culto poderia atingir uma dimensão ético-espiritual elevada. Zaratustra pregava que o esforço e o trabalho eram atos santos. Eis algumas frases ou ditos a ele atribuídos:
  • "O que vale mais num trabalho é a dedicação do trabalhador".
  • "O que lavra a terra com dedicação tem mais mérito religioso do que poderia obter com mil orações sem nada fazer".
  • "Aquele que diz uma palavra injusta pode enganar o seu semelhante, mas não enganará a Deus."
  • "Deus está sempre à tua porta, na pessoa dos teus irmãos de todo o mundo."
  • "O que semeia milho, semeia a religião. Não trabalhar é um pecado."

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