A rainha de Sabá (em ge'ez:
ንግሥተ ሳባ, transl. Nigista
Saba, em hebraico: 'מלכת שבא, transl. Malkat Shva, em árabe ملكة
سبأ, transl. Malikat Sabaʾ) foi, na Torá, no Antigo e no Novo
Testamento, no Alcorão, na história da Etiópia e do Iêmen, uma célebre soberana
do antigo Reino de Sabá. A localização deste reino pode ter incluido os atuais
territórios da Etiópia e do Iêmen.
Conhecida entre os povos etíopes
como Makeda (em ge'ez ማክዳ, transl. mākidā),
esta rainha recebeu diferentes nomes ao longo dos tempos. Para o rei Salomão de
Israel ela era a "rainha de Sabá". Na tradição islâmica ela era Balkis
ou Bilkis. Flávio Josefo, historiador romano de origem judaica, a chamou
de Nicaula. Acredita-se que tenha vivido no século X a.C..
Na Torá, uma tradição que
narra a história das nações foi preservada em Beresh't 10 (Gênesis 10).
Em Beresh't 10:7 existe uma referênca a Sabá (Shva), filho de Raamá,
filho de Cuxe, filho de Cam, filho de Noé. Em Beresh't 10:26-29 há uma
referência a Sabá - listada ao lado de Almodá, Selefe, Hazarmavé, Jerá, Hadorão,
Usal, Dicla, Obal, Abimael, Ofir, Havilá e Jobabe, como os descendentes de Joctã,
filho de Héber, filho de Salá, filho de Arfaxade, descendente de Sem, um dos
filhos de Noé. A questão sobre se a rainha de Sabá representaria uma ancestral
dos hamitas ou dos semitas suscita debates passionais até hoje.
Em 8 de maio de 2008, a Universidade de Hamburgo anunciou
oficialmente que arqueólogos alemães, depois de uma pesquisa comandada pelo
professor Helmut Ziegert, descobriram os restos do palácio da Rainha de Sabá,
datados do século X a.C., em Axum (Aksum), uma cidade sagrada da Etiópia, sob
um antigo palácio real.[1]
A rainha de
Sabá no judaísmo e no Velho Testamento
Claude Lorrain, A Embarcação da Rainha de
Sabá.
De acordo com a Torá e o Velho
Testamento, a rainha da terra de Sabá (cujo nome não é mencionado) teria ouvido
sobre a grande sabedoria do rei Salomão de Israel, e viajado até ele com
presentes de especiarias, ouro, pedras preciosas, e belas madeiras, pretendendo
testá-lo com suas perguntas, como está registrado no Primeiro Livro de Reis
(10:1-13) (relato copiado posteriormente no Segundo Livro de Crônicas, 9:1-12).
O relato prossegue apontando a
rainha como maravilhada pela grande sabedoria e riqueza do rei Salomão, e
pronunciando uma bênção sobre a divindade do rei. Salomão respondeu, por sua
vez, com presentes e "tudo o que ela desejou", após o qual a rainha
retornou ao seu país. Aparentemente, a rainha de Sabá seria muito rica, já que
ela teria trazido 4 toneladas e meia consigo para presentear ao rei Salomão (I
Reis, 10:10).
Nas passagens bíblicas que se
referem explicitamente à rainha de Sabá não há sinal de amor ou atração sexual
entre ela e o rei Salomão. Os dois são descritos apenas como dois monarcas
envolvidos em assuntos de estado.
Outro texto bíblico, o Cântico
dos Cânticos, contém algumas referências que, por diversas vezes, foram
interpretados como se referindo ao amor entre Salomão e a rainha de Sabá. A
jovem mulher do Cântico dos Cânticos, no entanto, nega continuamente as
insinuações românticas de seu pretendente, que muitos estudiosos identificaram
com o rei Salomão. De qualquer maneira, não há nada que identifique esta
personagem deste texto com a rainha estrangeira, rica e poderosa, descrita do
Livro dos Reis. A mulher do texto da canção claramente indica umas certas
"filhas de Jerusalém" como suas iguais.
A tradição etíope posterior
afirma com segurança que o rei Salomão realmente seduziu e engravidou sua
convidada, e possui um relato detalhado de como ele o fez (ver a seção
posterior relevante), um assunto de importância considerável para o povo
etíope, já que a linhagem de seus imperadores remontaria àquela união.
A rainha de
Sabá no islamismo
A rainha de Sabá, Bilqis, é mostrada ao
deitar-se num jardim - desenho em tinta sobre papel, 1595.
O Alcorão, texto religioso
central do islã, nunca menciona a rainha de Sabá por seu nome, embora as fontes
árabes a chamem de Balqis ou Bilqis. O relato corânico é similar
àquele da Bíblia; a narrativa conta como Salomão recebeu relatos de um reino
governado por uma rainha cujo povo venerava o Sol. Ele enviou uma carta,
convidando-a a visitá-lo e discutir sobre a sua divindade, relatada como sendo Alá,
o Senhor dos Mundos (Alamin) no texto islâmico. Ela aceitou o convite e
preparou enigmas para testar sua sabedoria e seu conhecimento. Então, um dos
ministros de Salomão (que tinha conhecimento do "Livro") propôs trazê-lo
o trono de Sabá "num piscar de olhos".[2] Diante do feito,
a rainha chegou à sua corte, mostrou-lhe seu trono, entrou no seu palácio de
cristal e começou a fazer as perguntas. Impressionada por sua sabedoria, ela
louvou sua divindade e, eventualmente, aceitou o monoteísmo abraâmico.
Visão no
islamismo atual
Alguns acadêmicos árabes
modernos têm identificado a rainha de Sabá como uma soberana de uma colônia ou
entreposto comercial no noroeste da Arábia, estabelecido por reinos da Arábia
Meridional. As descobertas arqueológicas mais recentes confirmam o fato de que
tais colônias realmente existiram, com achados como artefatos e inscrições no alfabeto
arábico meridional, embora nada especificamente relacionado a Balkis ou Bilkis,
a rainha de Sabá, tenha sido descoberto até agora.
A rainha de
Sabá na cultura etíope
Afresco etíope da rainha de Sabá rumo a
Jerusalém, cavalgando e armada com espada e lança.
A familia imperial da Etiópia
aponta sua origem a partir de um descendente da rainha de Sabá com o rei Salomão[3]
A rainha de Sabá (em ge'ez ንግሥተ ሣብአ, transl. nigiśta
Śab'a), é chamada de Makeda (ge'ez: ማክዳ) no relato etíope (que pode ser traduzido literalmente como "travesseiro").
A etimologia de seu nome é
incerta, existindo duas correntes principais de pensamento divergindo sobre sua
fonte etíope. Uma delas, que inclui o acadêmico britânico Edward Ullendorff,
mantém que o nome seria uma corruptela de Candace, uma rainha etíope mencionada
no Novo Testamento (Atos dos Apóstolos); a outra corrente liga o nome à Macedônia,
e relaciona esta história com as lendas etíopes posteriores sobre Alexandre, o
Grande e o período do século IV a.C.. Muitos acadêmicos, no entanto, como o italiano
Carlo Conti Rossini, não se convenceram por nenhuma destas teorias, e
declararam o assunto como ainda não-resolvido.[4]
Uma antiga compilação de
lendas etíopes, o Kebra Negast ("Glória dos Reis"), foi datada
como tendo sido escrito há 700 anos, e relata a história de Makeda e
seus descendentes. Neste relato o rei Salomão teria seduzido a rainha de Sabá e
tido com ela um filho, Menelik I, que se tornaria o primeiro imperador da
Etiópia.
A narrativa contida no Kebra
Negast - que não encontra paralelo na história bíblica - é de que o rei Salomão
teria convidado a rainha de Sabá a um banquete, servindo comida condimentada a
induzi-la a ter sede, e convidando-a para passar a noite em seu palácio. A
rainha pediu-lhe então que jurasse não a tomar à força. Ele aceitou com a
condição de que ela, por sua vez, não levasse nada de seu palácio à força. A
rainha assegurou que não o faria, ofendida pela insinuação de que ela, uma
monarca rica e poderosa, precisaria roubar qualquer coisa. No entanto, quando
ela acordou no meio da noite, sedenta, pegou uma jarra de água que havia sido
colocada ao lado de sua cama. O rei Salomão então apareceu, avisando-a de que
estava a descumprir sua promessa, ainda mais pelo fato de que a água, segundo
ele, seria a mais valiosa de todas as suas posses materiais. Assim, enquanto
ela saciou sua sede, ela libertou o rei de sua promessa, e passaram a noite
juntos.
A tradição de que a rainha de
Sabá bíblica teria sido uma soberana da Etiópia que visitou o rei Salomão em Jerusalém,
no antigo Reino de Israel, é referendada pelo historiador romano de origem judaica
Flávio Josefo, que identificou a visitante de Salomão como sendo "Rainha
do Egito e da Etiópia".
Enquanto não existem tradições
conhecidas de matriarcado no Iêmen durante o início do primeiro milênio a.C.,
as primeiras inscrições dos governantes de D'mt, no norte da Etiópia e da Eritreia,
mencionam rainhas de status elevado, possivelmente até igual ao de seus reis.[5]
Para a monarquia etíope, a
linhagem salomônica e sabaítica tem considerável importância política e
cultural. A Etiópia foi convertida ao cristianismo pelos coptas do Egito, e a Igreja
Copta lutou por séculos para manter os etíopes numa condição de dependência e
subserviência fortemente ressentida pelos imperadores etíopes.
A rainha de
Sabá no cristianismo
Além de sua menção no Velho
Testamento, a rainha de Sabá é mencionada, como Rainha do Sul, no Novo
Testamento,[6] quando Jesus Cristo indica que ela e os ninivitas
julgarão a geração dos contemporâneos de Jesus que o rejeitaram.
As interpretações cristãs das
escrituras enfatizam, tipicamente, tanto os valores históricos quanto os
valores metafóricos da história. O relato da rainha de Sabá é interpretado como
uma metáfora e uma analogia cristã: a visita da rainha a Salomão foi comparada
ao casamento metafórico da Igreja com Cristo, onde Salomão seria o
"ungido" (Cristo), ou messias, e Sabá representaria uma
população de gentios que se submeteu ao messias; a castidade da rainha de Sabá
foi descrita como um presságio da Virgem Maria; e os três presentes que ela
teria levado a Israel (ouro, especiarias e pedras) foram vistos como análogos
aos presentes dos Três Reis Magos (ouro, incenso e mirra). Esta
última analogia, em particular, é enfatizada como sendo consistente com uma
passagem do Livro de Isaías (60:6): "todos virão de Sabá; trarão ouro e
incenso e publicarão os louvores do Senhor."[7]
Visão
medieval
Entre as obras de arte
realizadas na Idade Média que retratam a visita da rainha de Sabá estão o
"Portal da Mãe de Deus", na Catedral de Amiens, do século XIII,
incluída como analogia em parte de um painel maior que retrata os presentes dos
Reis Magos..[8] As catedrais de Estrasburgo, Chartres, Rochester e Cantuária,
do século XII, contêm interpretações artísticas da rainha em vitrais e bas
decorações das jambas.[7]
Visão
renascentista
Relevo renascentista da rainha de Sabá se
encontrando com o rei Salomão - um dos vários painéis que compõem o portal do Batistério
de Florença.
Giovanni Boccaccio, em sua
obra Sobre as mulheres famosas (De mulieribus claris, em latim),
segue o exemplo de Josefo ao chamar a rainha de Sabá de Nicaula.
Boccaccio ainda afirma que ela não só era rainha da Etiópia e do Egito, como
também da Arábia, e que relatos afirmavam que ela tinha um palácio luxuoso numa
"ilha muito grande" chamada Meroe, localizada em algum lugar próximo
ao rio Nilo, "praticamente no outro lado do mundo." De lá, Nicaula
cruzou os desertos da Arábia, através da Etiópia e do Egito, pela costa do mar
Vermelho, até chegar a Jerusalém, onde se encontrou com "o grande rei
Salomão".[9]
O livro Cidade das Damas,
de Cristina de Pisano também chama a rainha de Sabá de Nicaula. Os afrescos de Piero
della Francesca em Arezzo (1466) sobre a Lenda da Vera Cruz contêm dois
painéis sobre a visita da rainha de Sabá a Salomão. A lenda ilustrada liga as vigas
do palácio do rei Salomão à madeira utilizada na crucifixão. A sequência desta
visão metafórica, do Renascimento, sobre a rainha de Sabá como uma analogia aos
presentes dos Reis Magos, também está claramente evidente no Tríptico da
Adoração dos Magos (1510), de Hieronymus Bosch. Bosch optou por retratar a
rainha de Sabá e o rei Salomão no colar vestido por um dos magos.[10]
O Doutor Fausto, de Christopher
Marlowe, se refere à rainha como Sabá, quando Mefistófeles está tentando
persuadir Fausto da sabedoria das mulheres com quem ele supostamente será
presenteado todas as manhãs.[11]
Descobertas
arqueológicas recentes
Descobertas arqueológicas
recentes feitas no Mahram Bilqis ("Templo de Bilkis"), em Ma'rib, no Iêmen,
apoiam a tese de que a rainha de Sabá teria governado a Arábia Meridional, com
evidências de que a área seria a capital do reino de Sabá.
Uma equipe de pesquisadores
financiados pela American Foundation for the Study of Man (AFSM,
"Fundação Americana para o Estudo do Homem") e liderada pelo
professor de arqueologia da Universidade de Calgary, Bill Glanzman, vem
trabalhando para decifrar os segredos de um templo de 3000 anos de idade
encontrado no deserto.[12]
Referências
- ↑ [1] "Arqueólogos alemães encontram palácio da rainha de Sabá na Etiópia", Yahoo Notícias - Ciência & Saúde
- ↑ Alcorão, 27:40
- ↑ Antigo Testamento, 351
- ↑ David Allen Hubbard, "The Literary Sources of the Kebra Nagast", doctoral thesis (St. Andrews, 1954), pp. 303f.
- ↑ Rodolfo Fattovich, "The 'Pre-Aksumite' State in Northern Ethiopia and Eritrea Reconsidered" in Paul Lunde, Alexandra Porter ed., Trade and Travel in the Red Sea Region, in D. Kennet & St J. Simpson ed., Society for Arabian Studies Monographs No. 2. BAR International Series 1269. Archaeopress, Oxford: 2004, p. 73.
- ↑ Evangelho segundo Mateus, 12:42 e Evangelho segundo Lucas, 11:31.
- ↑ a b Byrd, Vickie, editor; Queen of Sheba: Legend and Reality, (Santa Ana, California: The Bowers Museum of Cultural Art, 2004), p. 17.
- ↑ Murray, Stephen, The Portals:Access to Redemption, http://www.mcah.columbia.edu/Mcahweb/facade/body.html, webpage, accessed August 6, 2006.
- ↑ Giovanni Boccaccio, De mulieribus claris
- ↑ Web Gallery of Art, http://www.wga.hu/frames-e.html?/html/b/bosch/91adorat/01tripty.html, Visitado em 2 de agosto de 2006
- ↑ Marlowe, Christopher; Doctor Faustus and other plays: Oxford World Classics, p. 155.
- ↑ University of Calgary, http://www.ucalgary.ca/UofC/events/unicomm/NewsReleases/queen.htm, website accessed November 18, 2007
Texto extraído de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rainha_de_Sab%C3%A1
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