A Teosofia de Albert Einstein
Influenciado Pela Filosofia de Helena Blavatsky,
Einstein Foi Um Pioneiro da Cidadania Planetária
Carlos Cardoso Aveline
Albert Einstein não foi apenas um gênio da Física
moderna, mas também um profeta do futuro. Foi um pioneiro, um precursor.
Rompeu rotinas culturais para antecipar com clareza o surgimento de uma
civilização global e fraterna.
Nascido na Alemanha em 14 de março de 1879, a atividade científica de
Einstein é bem conhecida: todos sabem que, a partir de 1905, ele
começou a formular a teoria da relatividade. Mas, por algum motivo, sua
filosofia cósmica da vida foi sistematicamente ignorada. Foram
igualmente jogadas ao esquecimento a sua luta por uma sociedade
solidária e as suas propostas de desarmamento global, de dissolução dos
exércitos e de eliminação gradual das fronteiras nacionais.
A Encyclopaedia Britannica afirma que Einstein é comparável a Isaac Newton porque cada um deles revolucionou a Física do seu tempo. O que a Britannica
não diz é que tanto Einstein como Newton foram pensadores místicos e
estudantes de filosofia esotérica. Este aspecto central da vida e da
obra dos dois pensadores foi sistematicamente ignorado por seus
contemporâneos e mesmo hoje é conhecido por poucos.
“Minha condição humana me fascina”, escreveu Einstein. “Conheço o
limite da minha existência e ignoro por que estou nesta terra, mas às
vezes o pressinto (...). Cada dia, milhares de vezes, sinto minha vida –
corpo e alma – como integralmente dependente do trabalho dos vivos e
dos mortos. Gostaria de dar tanto quanto recebo, e não paro de receber.”
[1]
Grande alma, pensador maduro, Einstein escrevia para gente de todas
as religiões e filosofias. Falava sempre do essencial e evitava
envolver-se desnecessariamente com formas externas. Seu grande tema foi
a atitude do homem diante de si mesmo e do cosmo.
“O mistério da vida me causa a mais forte emoção”, escreveu. “É o
mesmo sentimento que desperta a beleza e a verdade, cria a arte e a
ciência. Se alguém não conhece esta sensação, ou se não pode mais
experimentar assombro ou surpresa, já é um morto-vivo, e seus olhos se
cegaram. A realidade secreta do mistério que constitui a religião é,
também, aureolada de temor. Por isso os homens reconhecem algo de
impenetrável às suas inteligências, mas eles conhecem as manifestações
externas desta ordem suprema e da Beleza inalterável. Os homens se
confessam limitados, e seu espírito não pode apreender esta perfeição. E
este conhecimento e esta confissão tomam o nome de religião. Deste
modo, mas somente deste modo, sou profundamente religioso. (...) Não me
canso de contemplar o mistério da eternidade da vida.” [2]
Einstein sabia apreciar o melhor das filosofias e religiões
terrestres, mas estava voltado para o cosmo infinito. Para descrever o
que sentia em relação ao mistério do que é ilimitado, ele escreveu:
“Dou a isto o nome de religiosidade cósmica, e não posso falar dela
com facilidade, já que se trata de uma noção muito nova, à qual não
corresponde nenhum conceito antropomórfico de Deus. O homem experimenta o
nada das aspirações e das vontades humanas, e descobre a ordem e a
perfeição onde o mundo da natureza corresponde ao mundo do pensamento. A
existência individual é vivida então como uma espécie de prisão, e o
ser deseja provar a totalidade da Existência como um todo perfeitamente
inteligível.” [3]
Sem dúvida, ele estudou e compreendeu a teosofia ou sabedoria
universal que está presente na essência das diferentes culturas e
religiões. Mas também percebeu que ela está ausente das Igrejas:
“Notam-se exemplos desta religião cósmica nos seus primeiros momentos
de evolução em alguns salmos de Davi ou em alguns profetas. Em grau
infinitamente mais elevado, o budismo organiza os dados do cosmo, que os
maravilhosos textos de Schopenhauer nos ensinaram a decifrar. Ora, os
gênios-religiosos de todos os tempos distinguiram-se por esta
religiosidade diante do cosmo. Ela não tem dogmas nem Deus concebido à
imagem do homem, portanto nenhuma igreja ensina a religião cósmica.
Temos também a impressão de que os hereges de todos os tempos da
história humana se nutriam com esta forma superior de religião. Contudo,
seus contemporâneos muitas vezes os tinham por suspeitos de ateísmo, e
às vezes também de santidade. Considerados deste ponto de vista,
homens como Demócrito, Francisco de Assis ou Spinoza se assemelham
profundamente.” [4]
Para Einstein, o papel mais importante da arte e da ciência é
despertar e manter vivo o sentimento desta religiosidade cósmica nas
pessoas sensíveis a ela. Alguns pensadores percebem a realidade
transcendente, e passam uma vida inteira ensinando a filosofia esotérica
mesmo sem jamais terem lido uma obra nominalmente teosófica; mas este,
certamente, não foi o caso de Einstein. Depois da sua morte, a sobrinha
que conviveu com ele durante muito tempo relatou que um exemplar de “A
Doutrina Secreta”, a obra máxima de Helena Blavatsky, permanecia sempre
sobre sua escrivaninha. E há outro testemunho direto neste sentido; um
cidadão chamado Jack Brown fez afirmação similar, em um artigo em que
narra uma visita a Einstein. [5]
Com cerca de 1.500 páginas na edição original, a obra “A Doutrina
Secreta” tem dois grandes temas profundamente interligados. Um deles é a
origem do Cosmo, do sistema solar e do nosso planeta; o outro é a
origem e a evolução da nossa humanidade.
A influência de Blavatsky sobre Einstein foi investigada pela biógrafa Sylvia Cranston:
“Robert Millikan pode ter sido um dos primeiros cientistas a apresentar ‘A Doutrina Secreta’
para Einstein. De 1921 a 1945 ele foi o diretor do Laboratório Norman
Bridges no Instituto de Tecnologia da Califórnia, em Pasadena; ele era
também o presidente do comitê executivo do Cal Tech. Nos anos 30, Millikan ajudou a trazer Einstein para os Estados Unidos. Por três verões, Einstein trabalhou em Cal Tech, antes de aceitar um posto em Princeton. Millikan estava profundamente interessado em ‘A Doutrina Secreta’. Durante seu mandato em Cal Tech,
uma cópia do livro, na biblioteca da escola, era tão solicitada que
para alguém conseguir o seu empréstimo tinha que colocar o nome numa
longa lista de espera. Parece provável que Millikan tenha sido um dos
que despertaram o interesse de Einstein pela Doutrina Secreta.”
Sylvia Cranston prossegue:
“Outra pessoa pode ter sido Gustav Stromber, um astrofísico do
Observatório Mount Wilson, de Los Angeles, que foi um bom amigo de
Einstein e trabalhou com ele no observatório. Quando a obra de Stromberg
‘Soul of the Universe’ (Alma do Universo) foi publicada,
tinha na orelha uma recomendação de Einstein. É interessante notar que,
durante este período, Boris de Zirkoff, compilador de ‘H.P.Blavatsky Collected Writings’,
visitava frequentemente o observatório e fez amizade com os astrônomos
de lá. Disse ele que todos estavam interessados em teosofia,
particularmente o dr. Hubbell. Stromberg visitou a Sociedade Teosófica
em Point Loma, e, certa vez, fez uma palestra lá; ele escreveu até mesmo
a introdução para um livro de astronomia de dois teosofistas de Point
Loma.” [6] Naturalmente, eles preferiam não divulgar de modo
público que estudavam uma filosofia aparentemente tão distante dos
dogmas científicos como a da tradição esotérica.
Como Helena Blavatsky, Einstein era irreverente. Quando discutia
assuntos humanos, não usava meias palavras. Sua visão das questões
sociais era holística. Ele era um cidadão planetário e a Terra era seu
país. Judeu, antecipou-se à perseguição dos nazistas e deixou Berlim em
1932, quando a ascensão de Hitler já era inevitável. Foi morar nos
Estados Unidos em 1933. Desde o final da segunda guerra mundial até o
final da sua vida em 1955, ele participou ativamente de campanhas pela
paz mundial.
Do mesmo modo que Blavatsky em relação ao século 19, Einstein foi um
enigma. Ele não se encaixava nas definições estreitas da sociedade do
século 20. Os comunistas o consideravam um capitalista, porque defendia
a liberdade individual e a liberdade de consciência. Já os capitalistas
o consideravam um comunista porque buscava a justiça social e tinha
idéias socialistas. Do ponto de vista das religiões dogmáticas, ele era
visto como um ateu. E sua consciência fundamentalmente mística do
universo era igualmente incômoda para as religiões convencionais e para o
materialismo tecnocrático, que já reinava supremo durante os anos da
guerra fria.
“A pior das instituições humanas se chama exército”, escreveu
Einstein. “Eu o odeio. Se um homem puder sentir qualquer prazer em
desfilar aos sons de música, eu desprezo este homem... Deveríamos fazer
desaparecer o mais depressa possível da civilização este câncer, o
exército. Detesto com todas as forças o heroísmo obrigatório, a
violência gratuita e o nacionalismo estreito. A guerra é a coisa mais
desprezível que existe. Preferiria deixar-me assassinar a participar
desta indignidade. No entanto, creio profundamente na humanidade. Sei
que este câncer de há muito deveria ter sido extirpado. Mas o bom senso
dos homens é sistematicamente corrompido. E os culpados são: escola,
imprensa, mundo dos negócios, mundo político.” [7]
Embora fosse pacifista, Einstein não hesitou na luta contra o
nazismo. Os seguidores de Hitler buscavam o domínio da energia nuclear,
quando Einstein alertou o presidente norte-americano Franklin Roosevelt
de que era preciso antecipar-se a eles. Ele exlicou:
“Minha responsabilidade na questão da bomba atômica se limita a uma
única intervenção. Escrevi uma carta ao presidente Roosevelt. Eu sabia
ser necessária e urgente a organização de experiências de grande
envergadura para o estudo e a realização da bomba atômica. Eu o disse.
Conhecia também o risco universal causado pela descoberta da bomba. Mas
os cientistas alemães se encarniçavam sobre o mesmo problema e tinham
todas as chances para resolvê-lo. Assumi portanto minhas
responsabilidades. E, no entanto, sou apaixonadamente pacifista. (...)
Hoje a guerra significa o aniquilamento da humanidade.” [8]
Devido em parte ao alerta de Einstein, o Ocidente democrático saiu
com vantagem na era nuclear. Do ponto de vista esotérico, a humanidade é
guiada por inteligências planetárias benignas, e a destruição de das
cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em seis e nove de agosto de
1945, tem servido até hoje como uma espécie de vacina cármica contra a doença mortal da guerra nuclear.
A lembrança de Hiroshima e Nagasaki cumpre papel central para que as
ilusões bélicas e nacionalistas não vençam o respeito pela própria vida.
Esta lição amarga existe em parte porque Einstein ajudou a colocar em
movimento, ainda durante os anos 1940, a produção das bombas atômicas
que iriam destruir duas grandes cidades japonesas, mostrando para todos,
e para sempre, que não é mais possível fazer guerras totais neste
planeta.
Como todo grande místico e ocultista, Einstein sabia mover-se bem em
meio aos paradoxos da vida humana. Não lhe faltava discernimento. Logo
que a Segunda Guerra Mundial terminou, Einstein passou a propor a
formação de um governo mundial democrático que tivesse o monopólio da
força atômica. Para ele, os estados nacionais funcionavam como os
antigos senhores feudais, e era preciso derrotar o nacional-feudalismo para libertar os povos e inaugurar a era da paz.
“O estado nacional assumiu os direitos de vassalagem dos senhores
feudais, escreveu Emery Reves, inspirado nas propostas de Einstein. O
senhor feudal europeu no século 12, por exemplo, tinha a soberania
judicial, militar e financeira sobre os moradores das suas terras. Em
alguns casos, o senhor feudal cunhava suas próprias moedas. Ele tinha
sua bandeira e outros símbolos, aos quais os habitantes locais deviam
jurar fidelidade. [9] Todas estas funções de servidão foram
assumidas, mais tarde, pelos governos nacionais monarquistas ou
republicanos. Os cidadãos até hoje exercem um poder muito limitado, e os
estados nacionais se comportam como senhores feudais capazes de entrar
em guerra com os senhores de outras terras. Daí a necessidades de
forças armadas em cada país. Após Hiroshima e Nagasaki, no entanto, o
armamentismo nacionalista tornou-se ainda mais perigoso e destituído de
sentido.
A idéia básica formulada por Einstein – uma democracia mundial que
promova um processo de desarmamento gradual – é uma solução a longo
prazo inevitável. Temos caminhado para ela de um modo extremamente
lento. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e o atual
clube atômico – formado pelos cinco membros permanentes do Conselho de
Segurança da ONU – tentam evitar a proliferação da bomba nuclear, mas
seus esforços somados ainda são uma concretização pobre e limitada da
proposta de Einstein. Não passam de um tímido começo.
Para Einstein, a autoridade da ONU terá força real quando seus
líderes forem eleitos diretamente pelos cidadãos do planeta. Neste
contexto, o Conselho de Segurança da ONU deverá estar subordinado à
Assembléia Geral, que será o parlamento democrático. [10] O
atual parlamento europeu e a União Européia constituem um passo que nos
aproxima do sonho milenar de uma democracia da humanidade, com um
conjunto de instituições legítimas, que reúnam fraternalmente todos os
povos, respeitando a liberdade de cada indivíduo e cada cidade, e
vivendo em harmonia com a natureza e as leis do cosmo.
Em um texto de 1940 sobre a liberdade, Einstein definiu dois pontos
centrais para a transição da sociedade humana em direção à civilização
próspera e luminosa do futuro.
Em primeiro lugar, disse ele, “aqueles bens indispensáveis para
manter a vida e a saúde de todos os seres humanos devem ser produzidos
com o menor trabalho possível de todos”. Em segundo lugar, “a satisfação
das necessidades físicas é de fato uma precondição para uma existência
satisfatória, mas não é suficiente”. Para ser feliz, o ser humano
necessita sentir que cresce intelectual e espiritualmente. Ele deve ter
tempo livre para si mesmo. A jornada de trabalho deve ser gradualmente
reduzida, o que é possível graças aos avanços tecnológicos. Mas, além
disso tudo, ele precisa ter uma liberdade interior, uma profunda
liberdade de pensamento. O ser humano não pode ser forçado a aceitar
dogmas religiosos, filosóficos ou políticos. Deve aprender a ver as
coisas por si mesmo, sem correr o risco de ser perseguido ou
marginalizado por isso. “Esta liberdade de espírito consiste na
independência de pensamento em relação às restrições provocadas por
preconceitos sociais e autoritários, mas também em relação às rotinas e
aos hábitos em geral”, escreveu.
E prosseguiu:
“Esta liberdade interior é uma dádiva pouco frequente da natureza, e
um objetivo valioso para o indivíduo. No entanto, a comunidade também
pode fazer muito para estimular esta conquista, e para, pelo menos, não
criar obstáculos a ela. Assim, as escolas podem bloquear o
desenvolvimento da liberdade interior através de influências
autoritárias e da imposição de compromissos espirituais demasiado
grandes para os jovens; de outra parte, as escolas podem favorecer esta
liberdade encorajando o pensamento independente. Só quando a liberdade
externa e interna são buscadas consciente e constantemente é que existe a
possibilidade de um desenvolvimento e um aperfeiçoamento espirituais, e
deste modo de uma melhora da vida interior e externa do homem.” [11]
No plano político e social, uma expressão desta liberdade interior
será a democracia global da nova era. Einstein registra o fato de que a
concentração de poder em mãos de uns poucos acompanhou o surgimento de
novas tecnologias, como a nuclear, que induzem a um controle cada vez
mais centralizado das sociedades. Atualmente, com o avanço da energia
solar e de outras energias alternativas, e com a informatização em rede
da sociedade em todo o mundo, vemos o surgimento de uma base
infraestrutural e tecnológica que servirá à descentralização política e
econômica da sociedade na nova era. O Estado nacional não foi
dissolvido mas já perde força. Independentemente das barreiras
nacionais e culturais, crescem as relações diretas entre as pessoas e
grupos de pessoas.
Einstein pensava e atuava como um teosofista em relação aos diferentes aspectos da vida.
Segundo a filosofia esotérica, por exemplo, é a motivação que decide o
rumo da vida. A intenção individual é o leme do barco. Ela determina
que tipo de carma ou de situação será criado. A qualidade e a
intensidade dos vários níveis de intenção de um indivíduo permitem
avaliar a verdadeira substância da sua vida e, por isso, o aparente
êxito ou derrota no mundo são secundários.
Einstein afirma o mesmo princípio básico. Ele define como objetivo
legítimo da vida de um indivíduo a meta de servir a comunidade de um
modo livre, criativo e independente. “O motivo mais importante para
trabalhar na escola e na vida deve ser o prazer do trabalho, o prazer de
ver os seus resultados e de saber da utilidade deste trabalho para a
comunidade em que se vive”, escreve. [12] Para ele, a escola –
primária, secundária ou de nível superior – deve ser um local de livre
busca da verdade, e não de mero condicionamento do aluno.
“Educação é aquilo que fica depois que esquecemos tudo o que nos foi ensinado na escola”, afirmou. [13]
A educação deve ter como meta que o jovem saia da escola com uma
personalidade harmoniosa e aberta para a vida, e não como proprietário
de um conhecimento especializado: “A prioridade deve ser sempre o
desenvolvimento de uma habilidade geral de pensar e avaliar com
independência, e não a aquisição de algum conhecimento específico”,
escreveu. [14]
Na juventude, Einstein foi considerado pouco brilhante nos estudos e
sem grande capacidade profissional, até que começou subitamente a
elaborar as grandes questões do Universo de um modo que renovava não só
a Física, mas o mundo científico do seu tempo. Uma inteligência
universal pode parecer inteiramente inexpressiva e insignificante, do
ponto de vista dos cérebros limitados que preferem ficar presos às
coisas pequenas de curto prazo; e isso ocorreu com Einstein. Sua teoria
do conhecimento era essencialmente teosófica:
“Todas as religiões, artes e ciências são galhos da mesma árvore”,
escreveu ele, fazendo uma referência à árvore da sabedoria universal,
uma imagem simbólica das tradições antigas que é amplamente discutida
em “A Doutrina Secreta”. E prosseguiu:
“Todas estas aspirações buscam tornar mais nobre a vida do homem,
elevando-a da esfera da mera existência física e levando o indivíduo à
liberdade. Não é por acaso que nossas universidades mais antigas
surgiram de escolas clericais e religiosas. Tanto as igrejas como as
universidades – quando cumprem sua verdadeira função – trabalham para
tornar o indivíduo mais nobre...” [15]
Na Grécia antiga, Platão escreveu que “não há nada mais poderoso que o
conhecimento” e ensinou que o conhecimento é preferível ao prazer e a
todas as outras coisas (“Protagoras”, 357). O
conhecimento é a percepção da verdade; e o lema do movimento teosófico
moderno é “Não há religião mais elevada que a Verdade”. Einstein
concorda com esta idéia fundamental. Mas, como Platão e os teosofistas,
ele também sabe que a mente humana só atinge a plenitude quando se
deixa iluminar pela luz da intuição.
“Nossa sociedade tem orgulho do progresso intelectual recente do
homem”, escreveu. “A busca e o esforço pela verdade e pelo conhecimento é
uma das qualidades mais elevadas do ser humano – embora frequentemente o
orgulho seja expressado de modo mais barulhento pelos que menos se
esforçam. E certamente devemos ter cuidado para não transformar o
intelecto em nosso deus; ele tem, de fato, mústulos poderosos, mas não
tem personalidade. O intelecto não pode conduzir; pode apenas ajudar.
(...) O intelecto vê com clareza métodos e instrumentos, mas é cego para
metas e valores.” [16]
O primeiro objetivo do movimento teosófico moderno é a criação de um
núcleo de fraternidade universal, independentemente de raça, credo,
sexo, classe social ou ideologia, e Albert Einstein parece ter tido a
mesma meta. Ele escreveu:
“Nossos antepassados judeus, os profetas e os velhos sábios chineses
proclamavam que o fator mais importante para a vida humana é o
estabelecimento de uma meta: a de construir uma comunidade de seres
humanos livres e felizes que, através de um constante esforço interior,
lutam para libertar-se da sua herança de instintos anti-sociais e
destrutivos. Neste esforço, o intelecto pode ser um auxiliar de grande
importância. Os frutos do esforço intelectual, unidos aos outros
aspectos do esforço e à capacidade criativa do indivíduo, dão
significado à vida. [17]
De fato, um velho axioma da filosofia oriental e esotérica afirma que
o objetivo da vida é a elevação e a expansão da consciência dos seres
humanos, de modo que ela possa compreender cada vez melhor e mais tarde
possa até mesmo dissolver-se na consciência divina universal, que é
eterna e indivisível. A partir da nova era de Aquário, em que estamos
ingressando, a percepção clara e cotidiana deste objetivo passa a ser
possível para um número crescente de seres humanos.
É no contexto desta nova consciência cósmica, teosófica ou oceânica,
que podemos compreender o auto-retrato intelectual esboçado por
Einstein em 1936:
“O que sabe um peixe sobre a água em que ele nada toda a sua vida? O
amargo e o doce vêm de fora, e o duro vem de dentro, dos seus próprios
esforços. Normalmente eu faço as coisas que minha própria natureza me
leva a fazer. É constrangedor inspirar tanto respeito e tanto amor por
causa disso. Flechas de ódio também foram atiradas sobre mim; mas elas
nunca me atingiram, porque de algum modo pertenciam a outro mundo, com o
qual não tenho conexão alguma. Vivo naquela solidão que é dolorosa na
juventude, mas deliciosa nos anos maduros da vida.” [18]
NOTAS:
[1] “Como Vejo o Mundo”, Albert Einstein, Ed. Nova Fronteira,
12ª edição, RJ, 214 pp., 1981, ver p. 9. A primeira edição da obra saiu
em 1953, dois anos antes da morte de Einstein. O livro é uma compilação
de escritos, alguns fragmentários.
[2] “Como Vejo o Mundo”, Albert Einstein, pp. 12-13.
[3] “Como Vejo o Mundo”, pp. 20-21.
[4] “Como Vejo o Mundo”, p. 21.
[5] “Helena Blavatsky”, Sylvia Cranston, Ed. Teosófica, Brasília, 1997, 678 pp., ver p. 20.
[6] “Helena Blavatsky”, Sylvia Cranston, pp. 651-652.
[7] “Como Vejo o Mundo”, Albert Einstein, p. 12.
[8] “Como Vejo o Mundo”, p. 60.
[9] “A Anatomia da Paz”, Emery Reves, Cia. Editora Nacional,
SP, 273 pp., 1946. Veja o capítulo dois, especialmente a página 104 e
seguintes.
[10] “Out of My Later Years”, Albert Einstein, Wings Books, Nova Iorque, EUA, 282 pp., 1996, ver p. 158.
[11] “Out of My Later Years”, Albert Einstein, pp. 10-12.
[12] “Out of My Later Years”, Albert Einstein, p. 33.
[13] “Out of My Later Years”, Albert Einstein, p. 34.
[14] “Out of My Later Years”, mesma p. 34.
[15] “Out of My Later Years”, p. 7.
[16] “Out of My Later Years”, p. 260.
[17] “Out of My Later Years”, na mesma p. 260.
[18] “Out of My Later Years”, p. 3.
00000000000000000000
O texto acima foi publicado pela primeira vez na revista “Planeta
NovaEra”, da Editora Três, edição 10, no final dos anos 1990, e assinada
como “Equipe NovaEra”. Em 2008, o autor revisou e ampliou o trabalho
para o website www.filosofiaesoterica.com .
Sobre as idéias humanistas de Einstein, veja também a obra “Conversas na Biblioteca - um diálogo de 25 séculos”, de Carlos Cardoso Aveline, Edifurb, SC, 2007, 170 pp. ( www.furb.br/editora ). O capítulo 23 do livro reúne algumas das afirmações mais agudas e marcantes feitas pelo físico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário