"São Bento de Núrsia, detalhe de um afresco de Fra Angelico, (1395-1455) Museu de São Marcos, Florença"
Por ocasião da dedicação do Mosteiro de Monte Cassino em 1964,
após sua reconstrução, o Papa Paulo VI proclamou São Bento (ca. 480 -
ca. 547) patrono principal de toda a Europa. O título, apesar de um
pouco exagerado, é verdadeiro sob vários aspectos. São Bento não
construiu o Mosteiro de Monte Cassino com a intenção de salvar a
cultura, mas, de fato, os mosteiros que depois seguiram a sua Regra
foram lugares onde o conhecimento e os manuscritos foram preservados.
Por mais de seis séculos, a cultura cristã da Europa medieval
praticamente coincidiu com os centros monásticos de piedade e estudo.
São Bento não foi o fundador do monaquismo cristão, tendo vivido
quase três séculos depois do seu surgimento no Egito, na Palestina e na
Ásia Menor. Tornou-se monge ainda jovem e desde então aprendeu a
tradição pelo contato com outros monges e lendo a literatura monástica.
Foi atraído pelo movimento monástico, mas acabou dando-lhe novos e
frutuosos rumos. Isto fica evidente na Regra que escreveu para os
mosteiros, e que ainda hoje é usada em inúmeros mosteiros e conventos no
mundo inteiro.
A tradição diz que São Bento viveu entre 480 e 547, embora não se
possa afirmar com certeza que essas datas sejam precisas do ponto de
vista histórico. Seu biógrafo, São Gregório Magno, papa de 590 a 604,
não registra as datas de seu nascimento e morte, mas se refere a uma
Regra escrita por Bento. Há discussões com relação à datação da Regra,
mas parece haver consenso de que tenha sido escrita na primeira metade
do século VI. São Gregório escreveu sobre São Bento no seu Segundo Livro
dos Diálogos, mas seu relato da vida e dos milagres de Bento não pode
ser encarado como uma biografia no sentido moderno do termo. A intenção
de Gregório ao escrever a vida de Bento foi a de edificar e inspirar,
não a de compilar os detalhes de sua vida quotidiana. Buscava mostrar
que os santos de Deus, em particular São Bento, ainda operavam na Igreja
Cristã, apesar de todo o caos político e religioso da época.
Por outro lado, seria falso afirmar que Gregório nada apresenta em seu
texto sobre a vida e a obra de Bento. De acordo com os Diálogos de São
Gregório, Bento (e sua irmã gêmea, Escolástica) nasceu em Núrsia, um
vilarejo no alto das montanhas, a nordeste de Roma. Seus pais o mandaram
para Roma a fim de estudar, mas ele achou a vida da cidade eterna
degenerada demais para o seu gosto. Por conseguinte, fugiu para um lugar
a sudeste de Roma, chamado Subiaco, onde morou como eremita por três
anos, com o apoio do monge Romano. Foi então descoberto por um grupo de
monges que o incitaram a se tornar o seu líder espiritual. Mas o seu
regime logo se tornou excessivo para os monges indolentes, que
planejaram então envenená-lo. Gregório narra como Bento escapou ao
abençoar o cálice contendo o vinho envenenado, que se quebrou em
inúmeros pedaços. Depois disso, preferiu se afastar dos monges
indisciplinados. São Bento estabeleceu doze mosteiros com doze monges
cada, na região ao sul de Roma. Mais tarde, talvez em 529, mudou-se para
Monte Cassino, 130 km a sudeste de Roma; ali destruiu o templo pagão
dedicado a Apolo e construiu seu primeiro mosteiro. Também ali escreveu
sua Regra para o Mosteiro do Monte Cassino, já prevendo que ela poderia
ser usada em outros lugares. Os 38 pequenos capítulos do Segundo Livro
dos Diálogos contêm vários episódios da vida e dos milagres de São
Bento. Algumas passagens dizem que podia ler o pensamento das pessoas,
outras mencionam feitos miraculosos, como quando fez brotar água de uma
rocha e um discípulo andar sobre a água; outra passagem menciona um
jarro de óleo que nunca se esgotava.
As estórias de milagres fazem eco aos acontecimentos da vida de certos
profetas de Israel, e também da vida de Jesus. A mensagem é clara: a
santidade de Bento é como a dos santos e profetas de antigamente, e Deus
não abandonou o seu povo, mas continua a abençoá-lo com homens santos.
Bento deve ser encarado como um líder monástico, não como um erudito.
Provavelmente conhecia bem o latim, o que lhe dava acesso aos escritos
de Cassiano e outros, incluindo regras e sentenças. Sua Regra é o único
texto conhecido de Bento, mas é suficiente para manifestar a habilidade
genial com que cristalizou o melhor da tradição monástica e trouxe-a
para o Ocidente. Gregório apresenta Bento como modelo de santo que foge
da tentação para levar uma vida de atenção à presença de Deus. Através
de um esquema equilibrado de vida e oração, Bento chegou ao ponto de se
aproximar da glória de Deus. Gregório narra a visão que Bento teve
quando sua vida chegava ao fim: "De súbito, na calada da noite, olhou
para cima e viu uma luz que se difundia do alto e dissipava as trevas da
noite, brilhando com tal esplendor que, apesar de raiar nas trevas,
superava o dia em claridade. Nesta visão, seguiu-se uma coisa admirável,
pois, como depois ele mesmo contou, também o mundo inteiro lhe apareceu
ante os olhos, como que concentrado num só raio de sol" (cap. 34). São
Bento, o monge por excelência, levou um tipo de vida monástica que o
conduziu à visão de Deus.
Oração de São Bento
(pedidos de proteção contra o inimigo)
A Cruz sagrada seja minha LuzNão seja o Dragão meu guia
Retira-te Satanas
Nunca me aconse-lhes coisas vãs
É mal o que tu me ofereces
Bebe tu mesmo do teu veneno
Rogai por nós bem aventurado São Bento
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo
Em Latim
Crux Sacra Sit Mihi LuxNon Draco Sit Mihi Dux
Vade Retro Sátana
Nunquam Suade Mihi Vana
Sunt Mala Quae Libas
Ipse Venena Bibas
Fonte: http://www.cot.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário