Arthur Schopenhauer (Danzig, 22 de
fevereiro de 1788 — Frankfurt, 21 de
setembro de 1860) foi
um filósofo alemão do século XIX.
Seu pensamento sobre o amor é caracterizado por não se
encaixar em nenhum dos grandes sistemas de sua época. Sua obra principal é
"O mundo como vontade e representação" (1819), embora o seu livro
"Parerga e Paralipomena" (1851) seja o mais conhecido. Schopenhauer
foi o filósofo que introduziu o budismo e o pensamento indiano na metafísica alemã. A
influência oriental em sua filosofia o fez aceitar o ateísmo. Ficou
vulgarmente conhecido por seu pessimismo e entendia o budismo (e a essência da
mensagem cristã, bem como o essencial da maior parte das culturas religiosas de
todos os povos em todos os tempos) como uma confirmação dessa visão
realista-pessimista. Schopenhauer também combateu fortemente a
filosofia hegeliana e influenciou fortemente o pensamento
de Eduard von Hartmann e Friedrich Nietzsche.
Schopenhauer acreditava no amor como meta na vida,
mas não acreditava que ele tinha a ver com a felicidade.
O pensamento de Schopenhauer parte de uma interpretação de
alguns pressupostos da filosofia kantiana, em especial de sua concepção de
fenômeno. Esta noção leva Schopenhauer a postular que o mundo não é mais que
representação. Esta conta com dois polos inseparáveis: por um lado, o
objeto, constituído a partir de espaço, tempo e o princípio de causalidade; por
outro, a consciência íntima e subjetiva acerca do mundo, sem a qual este não
existiria. Contudo, Schopenhauer rompe com Kant, uma vez que este afirma a
impossibilidade da consciência alcançar a coisa-em-si, isto é, a realidade não
fenomênica. Segundo Schopenhauer, ao tomar consciência de si em nível radical,
o homem se experiencia como um ser movido por aspirações e paixões. Estas
constituem a unidade da vontade, compreendida como o princípio norteador
da vida humana.
Voltando o olhar para a natureza, o filósofo percebe,
analogicamente, esta mesma vontade presente em todos os seres, figurando como
fundamento de todo e qualquer movimento (muito embora Schopenhauer trabalhar
com o conceito de vontade metaforicamente, no sentido de que, dentre todos
os fenômenos, o fenômeno da vontade é o que mais se aproxima e melhor
representa a natureza da coisa-em-si). Portanto, para Schopenhauer, a vontade
como que corresponde à coisa-em-si, sendo, deste modo, como que
o substrato último de toda realidade minimamente experienciável (e
minimamente experienciável porque, aos olhos de Schopenhauer, a vontade,
rigorosamente falando, não possui status metafísico no sentido
clássico de algo situado além e fora da experiência, mas sim, poder-se-ia
dizer, uma espécie de status "introfísico", na medida em
que é a experiência mais imediata, profunda, radical e íntima do mundo, primeiramente
sendo percebida de forma direta por nós em nós mesmos compreendidos como
"complexo intelecto-corporal" e, depois, suposta analogicamente, isto
é, indiretamente, nos demais corpos/objetos). De se ver, assim, o princípio
ontológico basilar dessa concepção schopenhaueriana, a saber, "o postulado
da uniformidade da natureza em dimensão não fenomênica".
O impulso do desejo não se dá de forma consciente: ele,
ao contrário, se desdobra desde o inorgânico até o homem, que deseja sua
preservação. A consciência humana seria uma mera superfície, tendendo a
encobrir, ao conferir causalidade a seus atos e ao próprio mundo, a
irracionalidade inerente à vontade. Sendo deste modo compreendida, ela
constitui, igualmente, a causa de todo sofrimento, uma vez que lança os entes
em uma cadeia perpétua de aspirações sem fim, provocando a dor de ser algo que
jamais consegue completar-se. Daí a nota pessimista consequente no
pensamento de Schopenhauer: o prazer consiste apenas na supressão
momentânea da dor; esta, por sua vez, é a única e verdadeira realidade.
Contudo, há alguns caminhos (estéticos) que possibilitam ao
homem escapar da vontade, e assim, da dor que ela acarreta. A primeira via é a
da arte. Schopenhauer traça uma hierarquia presente nas manifestações
artísticas na qual cada modalidade artística, ao nos lançar em uma pura
contemplação de ideias, nos apresenta um grau de "objetidade" da
vontade. Partindo da arquitetura como seu grau inferior, ao mostrar a
resistência e as forças intrínsecas presentes na matéria, o último patamar
desta contemplação reside na experiência musical; a música, por ser
independente de toda imagem externa, é capaz de, se não nos apresentar, pelo
menos nos aproximar da pura Vontade em seus movimentos próprios; a
música é, pois, de certa forma, a própria vontade encarnada. Tal contemplação,
trazendo a vontade para diante de nós, consegue nos livrar, momentaneamente, de
seus liames. Mas a arte representa apenas um paliativo para o sofrimento
humano.
Uma outra possibilidade de escape, conquanto indireta, é
apontada através da moral. A conduta humana deve voltar-se para a
superação do egoísmo; este, muito basicamente, provém da ilusão de
individuação, pela qual um indivíduo deseja, constantemente, suplantar os
outros. A compreensão da vontade faz aparecer todos os entes desde seu caráter
único, o que leva, necessariamente, a um sentimento de compaixão e a
uma prática de justiça e caridade - o que não significa
que, para Schopenhauer, a moralidade seja, no primário e essencialmente (tal
qual a arte e a ascese), "uma via para
a felicidade pessoal": apenas que, praticando-a, indiretamente o
agente termina por fruir a dita felicidade entendida em termos de anulação do
egoísmo; significa dizer que, pelo menos no âmbito da moralidade, a felicidade
própria (seja a de base egoísta ordinária, seja a de base contemplativa) não é
a razão de ser ou o motivo premente e imediato da ação do agente, embora este
lograr afastar, mediante a prática moral, mesmo que por curto período de tempo,
o sofrimento ligado ao querer egoísta.
Finalmente, a suprema felicidade somente pode ser
conseguida pela anulação da vontade (isto é, pela ascese). Tal
anulação é encontrada por Schopenhauer no misticismo hindu,
particularmente no budismo; a experiência do nirvana constitui a
aniquilação desta vontade última, o desejo de viver. Somente neste estado, o
homem alcança a única felicidade real e estável. Contudo, reveste-se de suma
importância frisar o objeto dessa via ascética, seja ele, a felicidade de tipo
contemplativa ou a bem-aventurança, uma vez que o ascetismo relacionado ao
escopo da felicidade não pode ser visto, nos quadros da filosofia
schopenhaueriana, como algum tipo de nível ou momento da experiência moral (já
que o valor moral das ações, para Schopenhauer, está, justamente, no
desinteresse pessoal em prol do interesse alheio, vale dizer, no não se
preocupar, ao menos em linha de princípio, com a felicidade própria, mas com a
felicidade do outro) e sim como o caminho mais seguro para quem pretende ter e
gozar uma felicidade não tão instável como aquela radicada na satisfação dos
desejos e das necessidades. Numa palavra, na satisfação da vontade material.
Portanto, por mais que Schopenhauer não tenha colocado a questão nesses termos,
o ascetismo (do modo como ele o concebe) está mais para um tipo de "eudaimonismo espiritual"
do que para um "grau da vida moral", por continuar sendo um ideal
comprometido com a busca da "felicidade", da
"bem-aventurança".
A felicidade pela via da satisfação é (para o indivíduo
consciente que pensa e diagnostica sua condição existencial) insustentável,
porquanto a vontade é insaciável; se assim for, somente uma outra via que não a
da satisfação pode nos levar a uma felicidade menos frustrante. A via
constatada por Schopenhauer, naturalmente, é a oposta, ou seja, a da negação da
vontade, traduzida em termos de conhecimento liberto dos grilhões da vontade
egoísta, portanto um conhecimento não mais a serviço da vontade, donde o
esteticismo schopenhaueriano, pois todo conhecimento que não tem por finalidade
atender às demandas do egoísmo faz-se contemplativo, dado que limita-se a
assistir à vida, seja do ponto de vista da arte (criação e/ou contemplação do
belo), da moral (contemplação da igualdade fundamental que subjaz a tudo e,
consequentemente, a consciência do respeito pelo outro por sabê-lo um igual) ou
da ascese (abstenção completa da vontade material de vida, intelectualizando-se
e espiritualizando-se).
Uma outra via para a felicidade sustentável ainda é possível
entrever na obra de Schopenhauer e merece crédito por haver sido, a julgar pela
aparência, atestada pelo próprio estilo de vida do filósofo. Trata-se da via da
"perfeição" ou da "vida integral" (a qual, diga-se de
passagem, remonta à Antiguidade, não sendo, portanto, uma novidade introduzida
por Schopenhauer). Com efeito, nesta, a felicidade não é vista em termos de
"estado" de quietude (nirvana), tampouco em termos de
"momento" (satisfação). Diferentemente, toma-se a bem-aventurança em
termos de "atividade", voltada ao trabalho e ao aperfeiçoamento das
potencialidades humanas mais nobres, como as de
caráter estético, teorético e ético - sem prejuízo da valorização
da prudência para com os negócios práticos do dia a dia, do bem-estar
e dos prazeres saudáveis ligados ao corpo. Há quem diga que a ausência expressa
dessa modalidade na tela das ideias de Schopenhauer pode ter tido, por
motivação, certa convicção arraigada do filósofo quanto à raridade do tipo
aspirante à perfeição, não se dando o filósofo, pois, ao trabalho de teorizar e
tampouco prescrever a via em questão (inobstante o testemunho de sua vida
pessoal a favor dessa tese, a qual poderia ser vista como uma espécie de
meio-termo entre a via da afirmação alienada da vida e a da negação
desesperada).
Assente isso, faz-se compreensível a brincadeira
de Alain de Botton (a propósito de uma série de tevê realizada por
ele sobre o tema do amor do modo como pensado por Schopenhauer) a respeito de
ter sido o filósofo (comumente tido por pessimista), talvez, o homem mais feliz
do mundo. De fato, a crer em seus biógrafos, Schopenhauer foi um homem saudável
durante praticamente toda a sua vida, relativamente rico, dotado de
extraordinária inteligência (tanto teorética quanto prática), sensibilidade
estética refinada e razoável disposição moral, o que o coloca bem próximo,
pois, do arquétipo do homem saudável e economicamente independente (ou seja,
digno) de um lado (o da sobrevivência) e teorético, esteta e político-moral de
outro (o da existência, isto é, da cultura), o que remeteria à perspectiva da
perfeição ou da integralidade
a aristotélica e epicurista-tardia.
Acentua-se, ainda, o valor das meditações críticas de
Schopenhauer sobre a problemática da liberdade e da necessidade,
máxime no campo da ética (moral e direito). De maneira bastante sucinta,
diga-se que, para Schopenhauer, não há falar em liberdade (no sentido
de livre-arbítrio), por ser o homem tão determinado como todos
os demais seres, repousando a ilusão da liberdade no fato da natureza fluida do
"conhecimento (conjunto de representações)", não na natureza do
"querer", bem como na ignorância quanto à maneira peculiar e complexa
do princípio da causalidade próprio à espécie humana.
A filosofia de Schopenhauer influenciou marcadamente vários
pensadores, entre os quais destacam-se: Eduard von
Hartmann, Nietzsche, Hartmann, Simmel, Thomas
Mann, Bergson e Freud.
Principais obras
As Dores do Mundo
Sobre a Raiz Quádrupla do Princípio da Razão
Suficiente (1813)
Sobre a Visão e as Cores (1815)
O Mundo como Vontade e Representação (1819)
Sobre a Vontade da Natureza (1836)
Os Dois Problemas Fundamentais da Ética (1841)
Parerga e Paralipomena (1851)
Metafísica do Amor/Metafísica da Morte
A Arte de se Fazer Respeitar
A Arte de Insultar
Sobre o Ofício do Escritor
A Arte de Ter Razão ou Como Vencer um Debate sem
Precisar ter Razão
A Arte de Ser Feliz
A Arte de Lidar com as Mulheres
Aforismos para a Sabedoria de Vida
Sobre a Vida Universitária
Sobre o Fundamento da Moral
O Livre Arbítrio (Pela Academia Real)
Contexto filosófico e cultural
Filho de Heinrich Floris Schopenhauer, comerciante da
cidade de Danzig, na Prússia (atualmente Gdansk, na Polônia), o
filósofo Arthur Schopenhauer estava destinado a seguir a profissão de
seu pai. Por isso, a família nunca se preocupou muito com sua educação
intelectual e, quando contava apenas doze anos de idade, em 1800, induziu-o a
empreender uma série de viagens importantes para um futuro comerciante.
Schopenhauer percorreu a Alemanha, a França, a Inglaterra,
a Holanda, a Suíça, a Silésia e a Áustria. Mas seu
interesse não foi despertado por aquilo que seu pai mais desejava: o que fez de
mais importante, durante essas viagens, foi redigir uma série de considerações
melancólicas e pessimistas sobre a miséria da condição humana. Em abril de
1804, visitou o arsenal de Toulon, onde teve contato com os condenados
às galés. Ele registrou em seu diário suas impressões sobre essa visita,
que o marcou profundamente. Em 1805, a família fixou-se em Hamburgo e
o obrigou a cursar uma escola comercial. A morte do pai (presumivelmente
cometeu suicídio) permitiu-lhe, contudo, abandonar para sempre os estudos
comerciais e voltar-se para uma carreira universitária, como era seu desejo.
Assim, Schopenhauer passou a dedicar-se aos estudos humanísticos, ingressando
no Liceu de Weimar em 1807; dois anos depois, encontrava-se na
faculdade de medicina de Göttingen, onde adquiriu vastos conhecimentos
científicos.
Em 1811, na Universidade de Berlim, assistiu aos cursos
dos filósofos Schleiermacher (1768-1834)
e Fichte (1762-1814). Este último seria, mais tarde, acusado por
Schopenhauer de ter deliberadamente caricaturado a filosofia
de Kant (1724-1804), tentando “envolver o povo alemão com a neblina
filosófica”. Em 1813, Schopenhauer doutourou-se pela Universidade de Berlim com
a tese Sobre a Quádrupla Raiz do Princípio de Razão Suficiente.
Nessa época, sua mãe, Johanna Schopenhauer,
estabeleceu-se em Weimar, onde começou a obter progressivo sucesso como
novelista e passou a freqüentar os círculos mundanos que Schopenhauer detestava
e se esforçava por ridicularizar ao máximo. As relações entre os dois
deterioraram-se a ponto de Johanna declarar publicamente que a tese de seu
filho não passava de um tratado de farmácia; em contrapartida, Schopenhauer
afirmava ser incerto o futuro de sua mãe como romancista e que ela somente
seria lembrada no futuro pelo fato de ser sua progenitora.
Apesar dessas brigas, Schopenhauer freqüentou durante algum
tempo o salão de sua mãe. Ali tornou-se amigo de Goethe (1749-1832), que
reconhecia seu gênio filosófico e sugeriu-lhe que trabalhasse numa teoria
antinewtoniana da visão. A partir dessa sugestão, Schopenhauer escreveu Sobre a
Visão e as Cores, publicado em 1816.
Em 1814, Schopenhauer rompeu definitivamente com a família
e, quatro anos depois, concluiu sua principal obra, O Mundo como Vontade e
Representação. Em 1819, o livro foi publicado, mas, um ano e meio após, haviam
sido vendidos apenas cerca de 100 exemplares. A crítica também não foi
favorável à obra.
Durante os anos de 1818 e 1819, Schopenhauer passou uma
temporada na Itália: ao voltar, sua situação econômica não era das melhores.
Solicitou então um posto de monitor na Universidade de Berlim, valendo-se de
seu título de doutor e passando por uma prova que consistia numa conferência.
Admitido em 1820, encarregou-se de um curso intitulado A Filosofia Inteira, ou
O Ensino do Mundo e do Espírito Humano. O título do curso devia-se,
provavelmente, a Hegel (1770-1831), que na época era um dos mais reputados
professores da Universidade de Berlim. Tentando competir com Hegel,
Schopenhauer escolheu o mesmo horário utilizado pelo rival, mas a tentativa
redundou em fracasso completo: apenas quatro ouvintes assistiam a suas aulas.
Ao fim de um semestre, renunciou à universidade.
Em 1821, envolveu-se em um acidente que teve desagradáveis consequências
econômicas e, sobretudo, viria causar-lhe periódica crise
de depressão psicológica. Nessa época, o filósofo residia
numa pensão, cujos principais locatários, em sua grande maioria, eram
senhoritas de idade avançada. Essas pensionistas tinham o desagradável hábito
de espionar a chegada de supostas amantes, recebidas por Schopenhauer em seus
aposentos. Certa noite, quando uma costureira chamada Caroline-Louise Marquet
dedicava-se a esse mister, Schopenhauer, perdendo a paciência, atirou-a escada
abaixo. Como resultado, foi processado e acabou sendo condenado a pagar
trezentos thalers de despesas médicas. Além disso, ficava obrigado a pagar
sessenta thalers anuais, até a morte de Caroline, que somente veio a falecer
vinte anos depois. Durante todo esse tempo, Schopenhauer entrava em depressão
nervosa, uma vez por ano, todas as vezes que era obrigado a pagar a pensão. Sua
revolta dizia respeito menos à quantia desembolsada do que àquilo que sentia
como injustiça cometida pelas autoridades.
Entre 1826 e 1833, Schopenhauer empreendeu frequentes
viagens, adoeceu por diversas vezes e tentou uma segunda experiência como professor
da Universidade de Berlim. Foi mais uma tentativa fracassada, somente
contrabalançada pela crítica elogiosa a seu O Mundo como Vontade e
Representação, publicada no periódico Kleine Bücherschau.
Em 1833, depois de muitas hesitações, o filósofo resolveu
fixar-se em Frankfurt, onde permanecera até sua morte em 1860. Durante os
vinte e sete anos que passou na cidade, levou uma vida solitária, acompanhado
por seu cão. Sua predileção por animais era filosoficamente justificada;
segundo Schopenhauer, entre os cães, contrariamente ao que ocorre entre os
homens, a vontade não é dissimulada pela máscara do pensamento.
Dedicado exclusivamente à reflexão filosófica,
Schopenhauer trabalhou intensamente em Frankfurt, redigindo e publicando
diversos livros. Em 1836, veio a lume o ensaio Sobre a Vontade na Natureza, que
deveria completar o segundo livro de O Mundo como Vontade e Representação. Na
mesma época, redigiu também dois ensaios sobre moral. O primeiro, escrito para
concorrer a um concurso da Academia de Ciências de Trondheim (Noruega),
intitula-se Sobre a Liberdade da Vontade. O segundo, O Fundamento da
Moral, concorreu ao concurso da Academia de Copenhague e continha verdadeiros
insultos a Hegel e a Fichte, que provocaram escândalo; embora
fosse o único concorrente, o livro não foi premiado. Posteriormente, os dois
ensaios seriam reunidos sob o título de Os Dois Problemas Fundamentais da Ética
e publicados em 1841. Três anos depois, surgiu a segunda edição de O Mundo como
Vontade e Representação, enriquecida com alguns suplementos. Apesar disso, não
teve sucesso.
O mesmo não ocorreu com a última obra escrita e publicada
por Schopenhauer. Intitulava-se Parerga e Paralipomena e continha
pequenos ensaios sobre os mais diversos temas: política, moral, literatura,
filosofia, estilo e metafísica, entre outros. A obra alcançou inesperado
sucesso, logo depois de ser publicada em 1851. A partir daí, a notoriedade do
autor espalhou-se pela Alemanha e depois pela Europa. Um artigo de Oxford,
publicado na Inglaterra, deu início à grande difusão de sua filosofia. Na
França, muitos filósofos e escritores viajaram até Frankfurt para visitá-lo. Na
Alemanha, a filosofia de Hegel entrou em declínio e Schopenhauer surgiu como ídolo
das novas gerações.
Assim, os últimos anos da vida de Schopenhauer
proporcionaram-lhe um reconhecimento que ele sempre buscou. Artigos críticos
surgiram em grande quantidade nos principais periódicos da época. A Universidade
de Breslau dedicou cursos à análise de sua obra e a Academia Real de
Ciências de Berlim propôs-lhe o título de membro, em 1858, que ele
recusou.
Dois anos depois, a 21 de setembro de 1860, Arthur
Schopenhauer, que Nietzsche (1844 – 1900) chamaria "o cavaleiro
solitário", faleceu, vítima de pneumonia. Contava, então, 72 anos de
idade.
Pensamentos sobre as mulheres
No "Ensaio de Schopenhauer acerca das mulheres" de
1851 ("Of Women", "Über die Weiber", texto
completo), ele expressou sua oposição ao que chamou de "estupidez
germano-cristã" sobre questões femininas. Ele argumentou que "está na
natureza da mulher obedecer" e se opôs ao poema em honra das mulheres
de Friedrich Schiller, "Dignidade das Mulheres" ("Dignity
of Women"). O ensaio oferece dois elogios, no entanto: "as mulheres
são decididamente mais sóbrias nos seus julgamentos que os [homens] são" e
são mais simpáticas aos sofrimentos alheios. Porém, este último elogio foi
considerado como uma fraqueza ao invés de uma virtude humanitária.
As escritas controversas de Schopenhauer influenciaram
várias pessoas, de Friedrich Nietzsche às feministas do século
XIX. A análise biológica de Schopenhauer da diferença entre os
sexos, e seus papéis separados na luta pela sobrevivência e reprodução,
antecipam alguns argumentos que foram posteriormente ventilados por sociobiologistas e psicólogos
evolucionários no século 20.
Após o já idoso Schopenhauer ter posado para uma escultura
de Elisabet Ney, ele teria dito à amiga de Richard Wagner, Malwida
von Meysenbug: "Eu ainda não fiz meu último pronunciamento sobre as
mulheres. Eu acredito que, se uma mulher obter êxito em se retirar da
coletividade, ou preferir se desenvolver além dela, não deixará de progredir
até mais do que um homem."
Conceito de Representação e sua
relação com a Vontade
O ponto de partida para a compreensão da filosofia de
Schopenhauer é o conceito de Representação. Representação, na obra de
Schopenhauer, é a atividade fisiológica que ocorre no cérebro de um animal (que
pode ser um humano ou outro animal) ao fim da qual temos a formulação de uma
imagem percebida pelo sujeito.
A representação é uma tradução que nossos sentidos fazem a
partir de informações advindas do "mundo exterior".
Portanto, o mundo que percebemos é uma construção mental; os
nossos sentidos recebem comprimentos de ondas do mundo exterior (input), que
não são vermelhas ou verdes em si, e então nosso cérebro (entendimento)
trabalha para traduzi-las em cores, formas etc...(output). O mesmo ocorrendo
com sons, tato etc (no caso do som, o cérebro traduz ondas sonoras em sons).
Porém, tal construção não se dá de forma aleatória e desordenada, ela tem como
a priori três fatores do entendimento: Espaço, Tempo e Causalidade. O espaço e
o tempo são como "óculos do entendimento" através da qual percebemos
o mundo. Já o mundo "fora de nossas representações cognitivas" ou
"mundo exterior" seria a Vontade. A Vontade, portanto, está além do
espaço e tempo e não é regida por causalidade, daí Schopenhauer dizer que a
essência do mundo é "irracional" pois não segue o princípio de Razão.
Quando a Vontade passa pelos sentidos, e sofre os processos descritos na
definição de representação citada acima, torna-se o mundo que vemos em nossa
volta. Logo, na filosofia schopenhauriana, não há distinção entre Sujeito (ser
que percebe) e objeto (Vontade representada), pois o próprio sujeito, seu
corpo, seus pensamentos e sentimentos também são Vontade objetivada. A Vontade
atinge seu mais alto grau da consciência humana, quando então ela pode
contemplar a si mesma como representação, pode ver a si mesma como num espelho.
Entretanto, o ser humano não percebe esse processo, pois ele
acredita ser, devido à limitação dos sentidos, individualizado e independente
do mundo, um ser autônomo. Como a Vontade é destituída do princípio de Razão, é
criada a ilusão de que cada ser humano, ou animal, é uma vontade particular, em
luta com outras vontades, uma luta incessante que culmina sempre em sofrimento,
tema recorrente na filosofia de Schopenhauer. Para superar o sofrimento é
necessário o reconhecimento de que há somente uma Vontade, independente, livre
e essência do Universo. Há a mesma Vontade em um leão, num ser humano ou numa
pedra.
Isto de certa forma diminuí um pouco o famoso
"pessimismo" de Schopenhauer, pois ele abre a oportunidade de cada
ser libertar-se das amarras da Representação. A essência da realidade (Vontade)
é o próprio cerne do sujeito, o ser humano, então, leva dentro de si a chave
que lhe permite ver a unidade dos fenômenos. Para isto, o ser humano deve
contemplar a si mesmo, reconhecer-se como Vontade e notar que sua vida é apenas
uma sequência de fenômenos representados que nada tem a ver com a essência do
Ser.
Cronologia
1788 - Nascimento de Schopenhauer em Dantzig, no dia 22
de fevereiro.
Kant: Crítica da razão prática.
1789 - Revolução Francesa
George Washington é o primeiro presidente dos Estados
Unidos.
1790 - Kant: Crítica da faculdade de julgar.
1793 - Os Schopenhauer se mudam para Hamburgo.
1794 - Fichte: Fundamentos da doutrina da ciência
em seu conjunto.
1800 - Schelling: Sistema do idealismo
transcendental.
1800-1805 - Destinado por seu pai ao comércio, Schopenhauer
realiza uma série de viagens pela Europa ocidental: Áustria, Suíça, França,
Países Baixos, Inglaterra. Isso lhe rende um Diário de viagem e um excelente
conhecimento do francês e do inglês.
Napoleão é imperador pela Europa.
Beethoven compõe a Heróica.
1805 - Suicida-se o pai de Schopenhauer; este permanece
em Hamburgo, renuncia à carreira comercial para dedicar-se aos estudos nos
liceus de Gota e de Weimar, e sua mãe muda-se para Weimar.
Napoleão é rei da Itália.
1807 - Hegel: A Fenomenologia do Espírito.
1808 - Fichte: Discurso à nação alemã.
Goethe: As afinidades eletivas e Fausto (primeira
parte).
1811 - Ingresso de Schopenhauer na Universidade de Berlim,
onde estuda filosofia.
1813 - Schopenhauer: Da quádrupla raiz do princípio da
razão suficiente (tese de doutorado).
Nascimento de Kierkegaard.
1814 - Schopenhauer rompe relações com a mãe e muda-se
para Dresden.
Napoleão abdica e se retira para a ilha de Elba.
Morre Fichte.
1815 - Derrota de Napoleão em Waterloo. O Congresso de
Viena reorganiza a Europa sob o signo da Santa Aliança.
1816 - Schopenhauer: Da visão e das cores.
1818 - Hegel na universidade de Berlim, onde
lecionará até a sua morte.
1819 - Schopenhauer: O mundo como vontade e
representação.
1820 - Schopenhauer começa a lecionar em Berlim com o título
de privat-dozent. Fracassa.
1825 - Nova tentativa na universidade de Berlim. Novo
fracasso. Schopenhauer renuncia à docência e passa a viver daí em diante com a
herança paterna.
1830 - Hegel: Enciclopédia das ciências
filosóficas (edição definitiva).
1831 - Morre Hegel.
1832 - Morre Goethe.
1833 - Schopenhauer estabelece-se em Frankfurt, onde
residirá até sua morte.
1836 - Schopenhauer: Da vontade na natureza.
1839 - Schopenhauer recebe um prêmio da Sociedade Norueguesa
de Ciências de Drontheim por uma dissertação sobre "A liberdade da
vontade".
1840 - A dissertação "Sobre o fundamento da moral"
não recebe prêmio da Sociedade Real Dinamarquesa de Ciências de Copenhague.
1841 - Schopenhauer publica suas duas dissertações de concurso
sob o título de Os dois problemas fundamentais da ética.
Feuerbach: A essência do cristianismo.
1843 - Kierkegaard: Temor e tremor.
1844 - Schopenhauer: O mundo como vontade e
representação, segunda edição acompanhada de Suplementos.
Stirner: O único e sua propriedade.
Marx e Engels: A sagrada família ou Crítica da crítica
crítica contra Bruno Bauer e sócios.
Kiergaard: O conceito da angústia.
Nascimento de Nietzsche.
1846 - Comte: Discurso sobre o espírito positivo.
1848 - Marx e Engels: Manifesto do
Partido Comunista.
Revolução na França e na Alemanha. Sua correspondência
confirma que Schopenhauer desejou e apoiou a repressão em Frankfurt.
1851 - Schopenhauer: Parerga e Paralipomena. Êxito e
primeiros discípulos, Frauenstädt, Gwinner etc.
1856 - Nasce Freud.
1859 - Darwin: A origem das espécies.
1860 - Schopenhauer morre em 21 de setembro
Schopenhauer como personagem
literário
A Cura de Schopenhauer
Referências
- a b c d Arthur
Schopenhauer (em português). UOL - Educação. Página visitada em
21 de setembro de 2012.
- "Encyclopedia
of Psychology and Religion, Volume 2" (2009), publicado pela Springer,
página 824. Uma declaração mais precisa pode ser para um alemão - ao
invés de escritores franceses ou britânicos daquela época - Schopenhauer era um
honesto e assumido ateu.
- SAFRANSKI, Rüdiger. A cena primordial da compaixão: In:
BOFF, L.; MÜLLER, W. Princípio de compaixão e cuidado. 4 ed.
Petrópolis: Vozes, 2009. Capítulo: V., 128-129 p. ISBN
978-85-326-2414-7
Arquivado do original em 27 de Outubro de
2009.[ligação inativa]
- Feminism
and the Limits of Equality PA Cain - Ga. L. Rev., 1989
- Safranski (1990), Capítulo 24. Página 348.
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