No antigo calendário israelita estão relacionadas três      festas (Ex 23.14-17; 34.18-23): a primeira é a Páscoa, celebrada      junto à dos Ázimos ou Asmos; a segunda é a Festa das      Colheitas ou Semanas que, a partir do domínio Grego, recebeu o nome      de Pentecostes; finalmente, a festa dos Tabernáculos ou Cabanas. As      duas primeiras celebrações foram adotadas pelo cristianismo,      porém, a terceira foi relegada ao esquecimento.
Dia de Pentecostes
Este estudo abordará a Festa das Colheitas ou Semanas, a partir de      sua celebração no culto israelita. Seria extremamente exaustivo      tentar abordar a origem dessa festa a partir dos cananeus, ou de outros povos      do Antigo Oriente Médio. Todavia, é perfeitamente justo suspeitar      que o costume de realizar a Festa das Colheitas pertencia aos cananeus. Há      três razões que substanciam esta suspeita:
1.Os agricultores sedentários cananeus dominavam        os férteis vales de Canaã quando os hebreus chegaram à        Canaã;
 2.Originalmente, os hebreus ou israelitas não        eram agricultores, mas pastores de ovelhas, vivendo como semi-nômades        nas montanhas centrais e estepes localizadas nas periferias das ricas regiões        agrícolas de Canaã;
 3.Pouco a pouco, o povo israelita veio tornar-se agricultor        e sedentário.
No Antigo Testamento, a liturgia mais desenvolvida dessa festa encontra-se em Lv 23.15-21. Porém, Dt 16.9-15 mostra uma outra liturgia que reflete um diferente período e, conseqüentemente, um novo ambiente de celebração. Este estudo tomará como base essas duas liturgias.
Do nome
 Pentecostes não é o nome próprio da segunda festa do      antigo calendário bíblico, no Antigo Testamento (Ex 23.14-17;      34.18-23). Originalmente, essa festa é referida com vários nomes:
1.Festa da Colheita ou Sega - no hebraico hag haqasir. Por se tratar de uma      colheita de grãos, trigo e cevada, essa festa ganhou esse segundo nome.      Provavelmente, hag haqasir Festa da Colheita é o nome original (Ex      23.16).
 2.Festa das Semanas - no hebraico, hag xabu´ot. A razão desse      nome está no período de duração dessa celebração:      sete semanas. O início da festa se dá, cinqüenta dias depois      da Páscoa, com a colheita da cevada; o encerramento acontece com a      colheita do trigo (Dt 34.22; Nm 28.26; Dt 16.10).
3.Dia das Primícias dos Frutos - no hebraico yom habikurim. Este nome      tem sua razão de ser na entrega de uma oferta voluntária, a      Deus, dos primeiros frutos da terra colhidos naquela sega (Nm 28.26). Provavelmente,      a oferta das primícias acontecia em cada uma das três tradicionais      festas do antigo calendário bíblico. Na primeira, Páscoa,      entregava-se uma ovelha nascida naquele ano; na segunda, Colheita ou Semanas,      entregava-se uma porção dos primeiros grãos colhidos;      e, finalmente, na terceira festa, Tabernáculos ou Cabanas, o povo oferecia      os primeiros frutos da colheita de frutas, como uva, tâmara e figo,      especialmente.
 4.Festa de Pentecostes. As razões deste novo nome são várias:      (a) nos últimos trezentos anos do período do Antigo Testamento,      os gregos assumiram o controle do mundo, impondo sua língua, que se      tornou muito popular entre os judeus. Os nomes hebraicos - hag haqasir e hag      xabu´ot - perderam as suas atualidades e foram substituídos pela      denominação Pentecostes, cujo significado é cinqüenta      dias depois (da Páscoa). Como o Império Grego assumiu o controle      do mundo, em 331 anos antes de Jesus, é provável que o nome      Pentecostes ganhou popularidade a partir desse período.
 Vale a pena uma observação. Além da Festa da Colheita      ou Semanas hag haqasir ou hag xavu´ot, o antigo calendário israelita      apontava uma terceira festa que acontecia no período do Outono, isto      é, nos meses de setembro e outubro. Na verdade, essa festa era também      da colheita, porém, sega das frutas, especialmente, uva, figo e tâmara.      A Bíblia Hebraica tem dois nomes para essa festa: Festa dos Tabernáculos      ou Cabanas hag hasucot e Festa da Colheita hag ha`asip (a palavra asip colheita      vem do verbo asap que significa colher e reunir.
Da cerimônia
 Enquanto a Páscoa era uma festa caseira, Colheita ou Semanas ou Pentecostes      era uma celebração agrícola, originalmente, realizada      na roça, no lugar onde se cultivava o trigo e a cevada, entre outros      produtos agrícolas. Posteriormente, essa celebração foi      levada para os lugares de culto, particularmente, o Templo de Jerusalém.      Os muitos relatos bíblicos não revelam, com clareza, a ordem      do culto, mas é possível levantar alguns passos dessa liturgia:
1.a cerimônia começava quando a foice era        lançada contra as espigas (Dt 16.9). É bom lembrar que deveria        ser respeitada a recomendação do direito de respigar dos pobres        e estrangeiros (Lv 23.22; Dt 16.11);
 2.a cerimônia prosseguia com a peregrinação        para o local de culto (Ex 23.17);
 3.o terceiro momento da festa era a reunião de        todo o povo trabalhador com suas famílias, amigos e os estrangeiros        (Dt 16.11). Essa cerimônia era chamada de "Santa Convocação"        (Lv 23.21). Ninguém poderia trabalhar durante aqueles dias, pois        eram considerados um período de solene alegria e ação        de graças pela proteção e cuidado de Deus (Lv 23.21);
 4.no local da cerimônia, o feixe de trigo ou cevada        era apresentado como oferta a Deus, o Doador da terra e a Fonte de todo        bem (Lv 23.11).
 5.Os celebrantes alimentavam-se de parte das ofertas        trazidas pelos agricultores;
 6.As sete semanas de festa incluíam outros objetivos,        além da ação de graças pelos dons da terra:        reforçar a memória da libertação da escravidão        no Egito e o cuidado com a obediência aos estatutos divinos (Dt 16.12).
 Observação
Era ilegal usufruir da nova produção da roça, antes      do cerimonial da Festa das Colheitas (Lv 23.14).
Características da celebração
 1.A Festa das Colheitas era alegre e solene (Dt 16.11);
 2.A celebração era dedicada exclusivamente        a Javé (Dt 16.10);
 3.Era uma festa ecumênica, aberta para todos os        produtores e seus famíliares, os pobres, os levitas e os estrangeiros        (Dt 16.11). Enfim, todo o povo apresentava-se diante de Deus. Reconhecia-se        e afirmava-se o compromisso de fraternidade e a responsabilidade de promover        os laços comunitários, além do povo hebreu;
 4.Agradecia a Deus pelo dom da terra e pelos estatutos        divinos (Dt 15.12);
 5.Era uma "Santa Convocação".        Ninguém trabalhava (Lv 23.21);
 6.Era celebrado o ciclo da vida, reconhecendo que a Palavra        de Deus estava na origem da vida " da semente " da árvore        " do fruto " do alimento " da vida...
 Observação
 A Festa da Colheita não celebra um mito, mas a ação      de Deus que cria e sustenta a vida do mundo criado.
Principais motivos da Festa das Colheitas
 A Festa das Colheitas (Cabanas ou Pentecostes) não era uma cerimônia      neutra, isto é, os celebrantes não se reuniam para um simples      lazer ou diversão. Toda a cerimônia buscava reafirmar e aprofundar      o sentido da fé em Javé, o Deus Criador e Libertador.
Aprender a fraternidade
Ao ler todas as reportagens sobre a Festa das Colheitas (Semanas ou Pentecostes)      é possível captar partes da cerimônia e, conseqüentemente,      sua legislação. Um dos detalhes marcantes dessa "Santa      Convocação" é o fortalecimento da fraternidade entre      os trabalhadores do campo, incluindo a população israelita,      os servos e estrangeiros.
Aprender a ter compromisso com Deus e com a comunidade
Ao celebrar a festa, toda a comunidade aprendia a ser responsável      para com a vontade de Deus e com o próximo - não somente com      os irmãos de sangue e fé. O ritual da festa ensinava, pedagogicamente,      que Deus é o Criador e Sustentador das leis que regem o mundo. Ele      fez uma distribuição comunitária da terra e manda a chuva      para hebreus e gentios, bons e maus, homens e mulheres, jovens e crianças.      O ritual da festa entendia que o grande problema da humanidade é a      falta de amor uns para com os outros.
Aprender a repartir os dons
Primitivamente, o povo bíblico convivia com as leis divinas de modo      feliz, sem lhe causar sofrimento. Por exemplo, a festa das Colheitas ensinou      a comunidade de trabalhadores do campo que se deveria entregar o excedente      de sua produção agrícola para Javé, a fim de que      essa oferta seja compartilhada com os menos favorecidos (Lv 25.6-7, 21-22).      A pedagogia dessa lei possui uma profunda sabedoria, pois ela tem como alvo      educar o povo dentro dos princípios da solidariedade e igualdade social.
Aprender a agradecer
Ao agradecer a Deus pelo dom da terra - para morar, plantar e alimentar dos      frutos produzidos nela - o povo descobria os mistérios da graça      divina. Ser grato pela "terra que mana leite e mel", pela cevada,      trigo e outros grãos que sustentam vida representam uma alegria de      enormes proporções. Além da terra, os celebrantes eram      ensinados a agradecer a Deus pela instrução que disciplina e      ordena a vida comunitária.
Conclusão
 A Festa da Colheita ou Semanas tomou o nome de Festa de Pentecostes, a partir      do Período Grego (fim do século IV antes de Cristo em diante).
Todas as festas, ao longo da história do povo bíblico, sofreram      metamorfoses. São modificações e adaptações,      perfeitamente normais, sofridas ao longo da história, sem contudo,      perderem as colunas principais de sua estrutura de sustentação.      Por exemplo, na formação cultural de Israel ocorreram metamorfoses      que se refletem no nome. Assim:
... hebreu » israelita » judeu » judeu da diáspora      ...
Com a Festa da Colheita ou Semanas, também, ocorreram transformações      significativas:
... Festa da Colheita » Festa das Semanas » Festa de Pentecostes.
A troca do nome da festa
Originalmente, a festa recebeu o nome "Festa da Colheita", porque      se tratava de uma cerimônia que girava em torno de uma sega de grãos,      após o período de formação e maturação.      O nome "Festa das Semanas" também faz sentido, porque ele      diz respeito às sete semanas de duração da festa quando      se processava a colheita de trigo e cevada.
Como parte da forte influência exercida pela cultura grega sobre os      judeus, a partir do século IV, antes de Cristo, o nome "pentecostes"      - cujo significado é "cinqüenta dias depois" - foi usado      para substituir o nome da Festa das Colheitas ou Festa das Semanas. O livro      Atos dos Apóstolos usa o nome Pentecostes (At 2.1).
Da natureza e do local da festa
Originalmente, a festa das Colheitas era agrícola. Era uma reunião      de agricultores que se prolongava por sete semanas. O longo tempo de duração      da festa e o nome "colheita" sugerem que os agricultores reuniam-se,      originalmente, para uma sega em mutirão. Como na época dessa      celebração (maio/junho) não há chuva, em Israel,      os celebrantes, que moravam longe do local da colheita, se abrigavam em tendas.
Contudo, o livro de Deuteronômio apresenta duas novidades à      festa: a memória da libertação do Egito e a recomendação      de estudar os estatutos (a Torá de Javé) durante as sete semanas      de festa. Além disso, ele fornece uma outra informação:      o nome da festa para o livro de Deuteronômio é Semanas e o local      é o templo de Jerusalém (16.9-12). A centralização      das festas foi parte da política reformista do reinado de Josias (640-609      a.C.).
Quanto ao relato do livro Atos dos Apóstolos, o nome da festa é      Pentecostes e o local é a cidade de Jerusalém, não especificando      se a reunião foi realizada no Templo ou próxima a ele. Quanto      ao número de pessoas presentes à festa, é possível      crer que os relatos de Levítico (23.15-22) e Deuteronômio (16.9-12)      sugerem um limite máximo de pessoas bem inferior ao número indicado      no livro de Atos dos Apóstolos (2.1-13).
A "ecumenicidade" da festa
Basicamente, a festa, tanto no período do Antigo Testamento como no      Novo Testamento, era cosmopolita, isto é, ela reunia pessoas de todas      as raças e condições sociais (conforme Dt 16.11 e At      2.1-13). O que varia entre os dois relatos é a quantidade de pessoas      presentes no evento: o relato de Atos dos Apóstolos fala que uma multidão      estava reunida em Jerusalém, enquanto que o relato de Deuteronômio      refere-se a uma presença bem menor.
A fraternidade da festa
A fraternidade era estimulada, entre os agricultores, na Festa das Colheitas,      conforme os textos de Levítico e Deuteronômio. Contudo, essa      fraternidade é descrita, em sua plenitude, na reunião reportada      no livro de Atos dos Apóstolos, através da palavra grega koinonia      comunhão (At 2.42-47). Essa comunhão entre os trabalhadores      do campo, na prática, forma o mutirão para colher o trigo pronto      para a ceifa.
O estudo da Bíblia na festa
Quando mais necessitava de uma disciplina comunitária, a festa das      Colheitas, ou Semanas, agregou a prática de estudar a Tora (Pentateuco).      No relato de Atos dos Apóstolos, há uma ausência de informação      sobre o estudo da Torá.
Jerusalém como local da festa
Tudo leva a crer que, originalmente, a Festa das Colheitas, ou Semanas, era      realizada na roça, particularmente, no campo de trigo. No projeto de      reforma, empreendido pelo rei Josias, no século VII a.C., todas as      festas foram levadas para o Templo em Jerusalém. Por que Jerusalém?
Jerusalém é a sede do governo, a capital política        e espiritual;
 Jerusalém é uma cidade que possui uma carga fortíssima        de tradição (Sl 48);
 Jerusalém encarna-se todas as contradições e conflitos;
 Jerusalém é o centro de todas as tensões da vida        judaica:
 em Jerusalém, sente-se amor dentro da condição de        ódio;
 em Jerusalém, nasce a esperança em meio ao desespero;
 em Jerusalém, o povo acredita que se dará a plenitude da        vida;
 No Novo Testamento, o sentido de Jerusalém atinge o sentido universal.
 Assim, A escolha da cidade de Jerusalém, para celebrar a Festa        das Colheitas, não é arbitrária.
Ensinando a importância da terra
Terra é uma palavra muito significativa na Bíblia, particularmente      no Antigo Testamento (AT). Há duas importantes palavras hebraicas para      terra: a primeira é adamah terra, solo, chão. Originalmente,      Adamah carregava o sentido de "solo vermelho", arável e cultivável.      Conforme o livro de Gênesis - "... Javé Eloim modelou o      'adam ser humano com o pó da 'adamah terra" (2.7) -o ser humano      possui uma estreita relação com a terra. 
Essa ligação fica mais íntima quando se pensa no alimento.      O alimento, como gerador da vida, tem a ver diretamente com o trabalho do      adam ser humano e a fertilidade do adamah terra. Por isso entre o ser humano      e a terra não poderá acontecer violência. Tanto o 'adam      ser humano como a' adamah terra são posses de Javé, e ambos      estão sob o cuidado dEle (Gn 2.6). A segunda palavra hebraica para      terra é eres, um substantivo feminino que ocorre 2.500 vezes, no A.T.    
Seu significado é amplo: (a) no sentido cósmico, eres possui      o significado de terra em oposição ao céu, o mar e a      água (SI 89.11); (b) no sentido físico, eres carrega o significado      de solo, sobre o qual o ser humano vive, planta e colhe os frutos (Dt 26.9);      (c) no sentido geográfico, eres designa determinadas regiões      e zonas (Jr 16.13); (d) no sentido político, eres indica a soberania      de determinados clãs, tribos, estados e povos (Is 9.1) e, por fim,      (e) o sentido teológico, quando eres é definida como posse de      Deus (Lv 25.23). Como uma propriedade divina (Os 9.3), a terra espera de seu      usuário uma forte disciplina e uma profunda espiritualidade. Para tanto,      a violência contra a terra é considerada uma desobediência      a Javé (Jr 2.7).
Resumindo
 Pentecostes é uma festa adotada pelo Cristianismo ao Judaísmo.      Em primeiro lugar, a palavra festa (hag, no hebraico) significa fazer um círculo.      Isso revela o sentido primitivo de festa, isto é, uma reunião      comunitária (Êx 5.1). Nela, o povo celebrante reunia, especialmente,      para estudar os textos sagrados que, mais tarde, viriam a ser a Bíblia.    
Em segundo lugar, o nome Pentecostes vem da língua Grega e significa      cinqüenta dias depois, a saber, da festa da Páscoa. Originalmente,      esta festa possuía três nomes hebraicos: festa das Semanas, festa      das Colheitas ou Dia das Primícias. Estes três nomes revelam      um pouco do conteúdo da festa: era agrícola e situada no período      das colheitas. 
A troca de nome para Pentecostes deu-se a partir do período grego      (333-63 anos antes de Cristo), quando a Grécia dominou culturalmente      o mundo. O mais primitivo motivo desta festa foi gratidão a Deus pelo      dom da terra. Posteriormente, o povo bíblico incorporou o motivo de      gratidão pela doação da Torá (450 anos antes de      Cristo). 
A Torá é a instrução divina por excelência,      contida no Pentateuco (cinco primeiros livros da Bíblia). Provavelmente,      a festa de Pentecostes, descrita em Atos dos Apóstolos 2, celebrava      a doação da Torá. Os salmos 19 e 119 mostram que a manifestação      do Espírito Santo está diretamente relacionada ao estudo da      Torá.
Fonte: www.metodista.br

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