quinta-feira, 17 de maio de 2012

A Origem do Lotus


O Saniasi andava com passos lentos e graves, e a poeira que lhe cobria as vestes era a prova das caminhadas interminaveis em busca da verdade .
Passara por ashramas e grutas, onde gurús o instruiram sobre o misterios da vida, do ser e dos mundos. Ele ouvia, mas, dentro de seu coração continuava ardendo a vontade de descobrir algo além do saber. Parou, e, os olhos calmos percorreram o belo espetáculo do rio que banhava a planicie, entre banianas e outras arvores, onde somente o canto de alguns pássaros quebrava o silẽncio.
Por fim dirigiu-se para o lugar onde o rio fazia um remanso, como um lago separado e, deixando o bastão, começõu a tirar os poucos trapos que lhe cobriam o corpo, carregando as peças, entrou pelo rio
e logo banhava-se com gestos lentos e as esfregava. Quando voltou a margem, o corpo magro luzia ao sol, naquela nudez cuja inocência maravilhosa refletia a inocência primeva das coisas que rodeavam, Deixou as roupas secando na grama e deitou-se de costas, mergulhando os olhos no céu, como buscando, além do visivel, um sinal, um segredo. O sono em breve o tomou e, dentro de alguns instantes, reconfortado pelo repouso, despertou calmamente, vestiu os trapos secos e limpos, agora. Dirigindo-se para a sombra de uma das banianas, á beira dágua, ali se sentou em postura de meditação e, dentro em poucos instantes, estava profundamente recolhido em seu mais intimo ser. Quem por ali passasse haveria, por certo, de julga-lo um idolo inerte. Mas, em seu interior, se assim podemos dizer, a consciência estava entregue a atividades além da compreensão da mente humana. Naquela harmonia de veiculos, ela elevara-se e, em busca do mais alta aspiração, ia além das realizações mais espirituais que um ser pode possuir. Em profundo samadi, contemplou-se em seu coração e murmurou:" EU SOU Aquele". Em sua adoração, todo ele se manifestava em um anseio de sacrificio da personalidade, de seu eu,de tudo que nele representasse uma parcela de separatividade. E, na meditação, assim se expressava: Senhor, faze de mim algo que sirva para meus irmãos na terra Te reconhecerem como Poder, Beleza e Sabedoria! Faze de mim algo que seja puro reflexo de Teu infinito esplendor. Transforme-me em algo que, aos olhos do mundo, seja um simbolo de Tua glória.
Dos páramos celestes, um raio de luz intensa, absolutamente pura, banhou toda a região como a veste de um glorioso Deva e,mais intensamente, rodeou, interpenetrou aquela figura pálida, quase esqueletica,mas vibrante de impessoal amor.
O saniasi foi empalidecendo; pouco a pouco seu corpo descaiu, rolou para a água e a morte do corpo fisico libertou a alma sequiosa de amplidões. E na superficie das aguas do remanso, sob a sombra das banianas, que o vento sacudia brandamente, apareceram umas flôres estranhamente belas, cujas raizes estavam firmemente afundadas no lodo, o caule mergulhado nas águas e as pétalas gloriosamente exibindo sua brancura aos raios do sol. Era o Lotus.

Texto extraído de O.U.S.E.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Ganesha

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Ganesha é o removedor dos obstáculos, filho de Shiva e Párvati. 
Dizem que o Sr. Shiva saiu para um retiro nos Himalaias e pediu ao seu filho Ganesha para tomar conta da casa. Pediu que ele não deixasse ninguém entrar durante sua ausência. A seguir, ele voou e foi praticar suas austeridades (em sânscrito, tapas) no topo do mundo. Ocorre que suas disciplinas espirituais prolongaram-se demasiadamente e ele permaneceu nas montanhas sagradas por mil anos.

Quando ele voltou para casa, estava barbudo e com um aspecto um tanto quanto severo. Na porta, tomando conta da residência, estava Ganesha. Ele não reconheceu o pai e barrou sua entrada. Os dois discutiram muito, pois Shiva dizia que era seu pai e Ganesha argumentava que seu pai não tinha barba e o tinha alertado de que um demônio disfarçado tentaria passar por ali disfarçado. Os dois entraram em um combate de proporções energéticas incríveis. No decorrer da luta, Shiva levou a melhor e subjugou seu filho. Com raiva, cortou a cabeça do menino e jogou o corpo no mato.A seguir, foi fazer a barba, tomar um banho e descansar da longa viagem. Quando sua esposa, Párvati, chegou e percebeu a bagunça na entrada da casa e não viu o filho de plantão, logo percebeu que algo terrível havia acontecido. Daí, Shiva disse-lhe o que tinha acontecido. Ela ficou furiosa e ameaçou separar-se dele (sabe como é, fazer uma grevezinha, hehehehe...) caso ele não trouxesse o filho de volta à vida. Temeroso de perder sua consorte divina, a rainha da formosura e da alegria, ele disse-lhe: "Está bem, vou trazê-lo de volta, mas se o seu corpo ainda estiver em boas condições, a cabeça já era, pois um chacal da floresta devorou-a ainda agora. Sei disso porque o meu olho espiritual a tudo vê. O que posso fazer é energizar o cadáver e colocar uma outra cabeça no lugar. Entrarei na floresta e deceparei a cabeça do primeiro animal que eu encontrar. Colocarei sua cabeça no corpo do menino e farei com que o seu corpo espiritual entre na carne novamente. Ele viverá no plano físico mais uma vez, mas com a cabeça de um animal."

Shiva entrou na floresta e o primeiro animal que ele encontrou foi justamente o elefante. Cortou a cabeça do paquiderme, colou-a no corpo e fez o espírito entrar nele. Daí, a figura do Ganesha passou a ser a do menino com cabeça de elefante. Baseados nisso, os hindus reverenciam a Ganesha como o divino protetor das casas e removedor dos obstáculos.

Se ele não deixou nem o pai entrar, com certeza não deixará nada pernicioso entrar na casa do devoto.

A outra lenda, mais suave, mas sem a intensidade da primeira, conta que Ganesha era um menino muito bonito. Sua beleza era tão mágica e sua presença tão doce, que as pessoas não prestavam atenção na sua sabedoria e nem escutavam seus ensinamentos. Ficavam cativadas pela sua beleza sobrenatural.
Para evitar isso, Shiva cortou sua cabeça e colocou a do elefante no lugar. Dessa forma, todos os que se aproximassem dele seriam libertados por sua sabedoria e não ficariam encantados pela aparência sedutora, mas ilusória. Quem buscasse seu concurso seria pelo objetivo do crescimento espiritual e não mais pelas firulas da vaidade.

As duas lendas revelam lições de sabedoria espiritual e são bem interessantes.
 

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Cada elemento do corpo de Ganesha tem seu próprio valor e significado:

     A cabeça de elefante indica fidelidade, inteligência e poder discriminatório;


    O fato de possuir apenas uma única presa (a outra estando quebrada) indica a habilidade de Ganesha de superar todas as formas de dualismo;
 
    As orelhas abertas denotam sabedoria, habilidade de escutar pessoas que procuram ajuda e para refletir verdades espirituais. Elas simbolizam a importância de escutar para poder assimilar idéias. Orelhas são usadas para ganhar conhecimento. As grandes orelhas indicam que quando Deus é conhecido, todo conhecimento também é;

    A tromba curvada indica as potencialidades intelectuais que se manifestam na faculdade de discriminação entre o real e o irreal;

 •    Na testa, o Trishula (arma de Shiva, similar a um Tridente) é desenhado, simbolizando o tempo (passado, presente e futuro) e a superioridade de Ganesha sobre ele;

    A barriga de Ganesha contém infinitos universos. Simboliza a benevolência da natureza e equanimidade, a habilidade de Ganesha de sugar os sofrimentos do Universo e proteger o mundo;
 
    A posição de suas pernas (uma descansando no chão e a outra em pé) indica a importância da vivência e participação no mundo material assim como no mundo espiritual, a habilidade de viver no mundo sem ser do mundo;
 
    Os quatro braços de Ganesha representam os quatro atributos do corpo sutil, que são: mente (Manas), intelecto (Buddhi), ego (Ahamkara), e consciência condicionada (Chitta).

    O Senhor Ganesha representa a pura consciência - o Atman - que permite que estes quatro atributos funcionem em nós;

    A mão segurando uma machadinha é um símbolo da restrição de todos os desejos, que trazem dor e sofrimento. Com essa machadinha Ganesha pode repelir e destruir os obstáculos. A machadinha é também para levar o homem para o caminho da verdade e da retidão;

    O chicote nos fala que os apegos mundanos e desejos devem ser deixados de lado;

    A terceira mão, que está em direção ao devoto, está em uma pose de bênçãos, refúgio e proteção (abhaya);

    A quarta mão segura uma flor de lótus (padma), e  simboliza o mais alto objetivo da evolução humana, a realização do seu verdadeiro eu;



O Senhor cuja forma é Om

Ganesha é também definido como Omkara que significa "tendo a forma de Om". De fato, a forma do seu corpo é uma cópia do traçado da letra Devanagari que indica este grande Bija Mantra. Por causa disso, Ganesha, que está na base de todo o mundo fenomenal, é considerado a encarnação corporal do Cosmos inteiro. Na língua tâmil, a sílaba sagrada é indicada precisamente por uma letra que relembra o formato da cabeça de Ganesha.

Ganesha e o rato

De acordo com uma interpretação, o divino veículo de Ganesha, o rato ou mushika representa sabedoria, talento e inteligência. Ele simboliza investigação diminuta de um assunto difícil. Um rato vive uma vida clandestina nos esgotos, portanto, é também um símbolo da ignorância que é dominante nas trevas e que teme a luz do conhecimento. O rato representa o ego, a mente com todos os seus desejos, e o orgulho da individualidade. Ganesha, guiando sobre o rato, se torna o mestre (e não o escravo) dessas tendências, indicando o poder que o intelecto e as faculdades discriminatórias têm sobre a mente.

Extraído de  O.U.S.E.